quinta-feira, 28 de abril de 2011

Homilia da Sexta-feira Santa

 
 
  Ó fronte bela e radiosa, ó face de ternura e amor; quantas vezes não sorriu para as crianças, quantas vezes não se compadeceu do pecador, quantas vezes não demonstrou sua misericórdia e o seu perdão...
  Ei -la hoje, ensangüentada, tão  desfigurada que não parece mais  ser um homem, é o que nos diz Isaías. Coberto de dores, cheio de sofrimentos. “Vere  languores nostros Ipse Tulit, et dolores nostros ipse portavit” -  em verdade, Ele tomou  as nossas fraquezas, e  carregou sobre si as nossas dores.”
  Tão gloriosa era outrora a face do Senhor! Agora, abatida, cheia de afrontas, de escárnios - Servo sofredor! Atentemos: se sua face desfigurava, irmãos, a nossa se configurava; Ele se desfigurou para que nossa face voltasse a brilhar. Nosso rosto desfigurado, antes pelos pecados, agora é novamente semelhança de Deus!
  Aceitou a coroa de espinhos impotente, para que fôssemos apresentados novamente ao Onipotente; aceitou a coroa de espinhos, para que a realeza usurpada nos fosse agora restituída; Ele se fez plebeu, para que nos tornássemos novamente reis da criação.
  O Sangue de Cristo fala outra linguagem. Talvez não a percebamos, talvez não a entendamos, mas Ele é por todos! Ó Sangue eloqüente!
  O olhar piedoso de Cristo que acolhia a todos os arrependidos agora se cerra; o brilho inigualável de seus olhos agora se anuvia. Quem O salvará? Eu e você podemos fazer alguma coisa por Cristo. E o que será?
  O Senhor fecha seus olhos para o pecado, mas não para o pecador! Ele pende,agora, na Cruz, suspenso da terra para elevar a todos nós. E nos elevamos? Ou permanecemos na baixeza da vida, numa existência sem consistência, sem ideais?
  Por meio daquela primeira  árvore e de seu fruto perdemos o Paraíso; agora por meio do lenho da Cruz e de seu fruto -  Jesus, que  é bendito desde o ventre de sua mãe, ganhamos novamente  o Céu . Quando Jesus entrega seu Espírito ao Pai, os Céus se abrem a nós e, de fato, podemos afirmar que nossos corações estão no alto. E não é precisamente isto que fazemos em cada Santo Sacrifício? Para fazer a experiência do “sursum corda” (corações ao alto) deveremos, antes, nos lançar confiadamente nos braços do Pai, como fez Jesus!
  “Qui  condolens interitu  / Mortis perire saeculum / Salvasti mundum languidum / Donan reis remedium” ( compadecido da criação, que na  morte perecia, salvaste o mundo enfermo, dando aos seres remédio). O remédio que o Cristo encontrou foi se fazer culpado por amor de nós; tomou um fardo que não era seu para nos aliviar. Por isso lemos na Carta aos Hebreus: “Temos um sumo sacerdote eminente, Ele é  capaz de se compadecer de nossos fraquezas, pois Ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”. Por isso o Senhor nos olha clemente; desceu de sua glória, rebaixou-se em sua dignidade para estar próximo a nós. Vamos ao encontro do Senhor, caríssimos! Vamos aos pés de sua cruz, trementes, “com paixão”, a mesma que o Cristo teve por nós. Aproximemo-nos então, no dizer da Carta aos Hebreus, “com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno”.
  Meditemos sobre este grande mistério da Cruz: se a sombra daquela árvore primeira era de morte, a sombra da cruz de Cristo é de vida, é de frescor, é de consolo, é de acalanto. Abriguemo-nos à sombra desta árvore, deste rochedo poderoso que nos protege e nos dá segurança. No deserto, Moisés bateu com sua vara na rocha e brotou água, que saciou o Povo de Deus no deserto, agora um soldado fere o lado de Cristo, rocha verdadeira e brota não somente água viva, mas sangue purificador; água do Batismo e sangue da Eucaristia:é a Igreja que nasce do lado de Cristo; se do  antigo Adão veio Eva, agora do lado do novo Adão sai  a nova esposa -  a Igreja. “O último suspiro de Cristo é o primeiro da Igreja”.
  Que a Paixão do Senhor se derrame sobre todos nós, nos tornando mais obedientes, mais justos, mais verdadeiros e mais disponíveis ao seu projeto de salvação; que a meditação destes santos mistérios nos aproximem de Cristo e de sua graça. Amém.

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