Tratemos hoje de desvios
que, por vezes, ocorrem em igrejas e capelas. A Congregação para o Culto Divino
e a Disciplina dos Sacramentos diz: “Não é estranho que os abusos tenham sua
origem em um falso conceito de liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em
Cristo, não uma falsa liberdade para fazer o que queremos, mas sim a liberdade
para que possamos realizar o que é digno e justo” (Instrução “Redemptionis
Sacramentum”, n. 7).
Esses desvios, sem dúvida, “contribuem para
obscurecer a reta fé e a doutrina católica sobre este admirável Sacramento”
(Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, n. 10), principalmente neste
período de maior afluência de turistas ao nosso país e, aqui, à Catedral e à
capela do Santuário Cristo Redentor do Corcovado, entre outros pontos.
Os sacerdotes que respondem pelo respeito a
esses e a outros lugares sagrados esperam contar com a colaboração dos
visitantes. Dizia São Josemaria Escrivá: “Lembro-me de como as pessoas se
preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As
melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até
com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas
finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor”. Afirmava ainda: “Quando na
terra se recebem pessoas investidas de autoridade, preparam-se luzes, música e
vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira devemos
preparar-nos?” (Homilias sobre a Eucaristia).
O novo “Catecismo da Igreja Católica” nos
adverte: “A atitude corporal – gestos, roupa – há de traduzir o respeito, a
solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede” (n.
1387). Nas mais diversas religiões, existe o lugar sagrado e quem nele entra,
deve fazê-lo do modo de agir e de vestir condizente com o Sagrado. Em uma
igreja católica acresce uma observância de regras mais exigentes, pois nossa fé
nos ilumina com a presença real no Sacrário, em cujo interior está a
Eucaristia, Jesus Cristo vivo sob as espécies sacramentais.
Mesmo os que não pertencem à Igreja Católica
sentem-se na obrigação de uma postura adequada pelo mais elementar bom senso. O
Senhor Jesus, tão compadecido no trato com os pecadores não recusa o uso de
termos severos nesse assunto, o que revela a importância do que diz respeito à
casa de Deus.
Há poucos anos, por diversas vezes, o Beato
de Deus João Paulo II se manifestou sobre observância das normas litúrgicas. Na
Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, com data de 17 de abril de 2003, assim nos
ensinava sobre o assunto: “Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo
para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na
celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica
eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia
nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde
são celebrados os santos mistérios (…). A celebração da Missa segundo as normas
litúrgicas, e a comunidade que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso,
mas significativo, o seu amor à Igreja”.
O mesmo Sumo Pontífice, a 7 de outubro de
2004, em sua Carta Apostólica “Mane Nobiscum Domine”, assim se expressou:
“Torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto
eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o
cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o
comportamento no seu todo”, não só por ocasião da missa, mas em conseqüência da
presença real na Eucaristia. A atitude de quem está no templo “seja
caracterizada por um respeito extremo”. (“Mane Nobiscum Domine”, nº 18).
Evocando textos da Sagrada Escritura acerca
do respeito pelo sagrado, cito ainda dois exemplos. No Antigo Testamento, o
episódio da “sarça ardente” narra o que Deus diz a Moisés e elucida a
sacralidade do lugar onde se encontra: “Tira as sandálias dos teus pés, porque
o lugar em que te encontras, é uma terra santa” (Ex 3,5). No Novo Testamento, a
atitude de Jesus reprova o desrespeito dos que ali se davam ao comércio: “Jesus
entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam e
disse-lhes: A minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, fazeis dela
um covil de ladrões” (Mt 21, 13ss). Nas palavras de Jesus ecoa, não somente o
fato de que a razão de ser do lugar sagrado é o culto divino, mas também um
sinal da presença de Deus entre os homens e da religiosidade do povo.
Todas essas considerações nos levam a
observar as normas a ser seguidas nas celebrações litúrgicas e nas visitas aos
lugares de culto. Nos nossos dias, de maior movimentação pelo turismo, é
importante não esquecer a diferença existente entre a visita a uma pinacoteca e
ao lugar sagrado em si mesmo e, particularmente, durante a celebração
litúrgica. Dois aspectos: o silêncio e o vestuário. O acolhimento aos que
desejam entrar nas igrejas ou capelas não exclui a observância de certos
requisitos por respeito ao sagrado e o clima espiritual a ser mantido.
Aqui no Rio de Janeiro, entre outros, cito a
capela no Santuário Cristo Redentor do Corcovado, a Catedral e igrejas próximas
à orla marítima. Não só durante as celebrações litúrgicas, as razões valem para
quem tem fé, mas também para qualquer visitante por respeito ao lugar sagrado.
Na entrada costuma haver advertências aos menos avisados sobre as exigências
decorrentes da nossa fé. A observação das mesmas poupa eventuais aborrecimentos.
Os lugares de culto, bem cuidados, são
eficazes meios de evangelização.
Cardeal D. Eugênio de Araújo
Sales
Arcebispo emérito do Rio de Janeiro
Arcebispo emérito do Rio de Janeiro
Nádia Maria
ResponderExcluirCom certeza !!! devemos edificar e respeitar a casa do Senhor!.