segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O decoro do Altar nas Igrejas Católicas, segundo o Cardeal Dom Eugênio Sales


  Tratemos hoje de desvios que, por vezes, ocorrem em igrejas e capelas. A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos diz: “Não é estranho que os abusos tenham sua origem em um falso conceito de liberdade. Posto que Deus nos tem concedido, em Cristo, não uma falsa liberdade para fazer o que queremos, mas sim a liberdade para que possamos realizar o que é digno e justo” (Instrução “Redemptionis Sacramentum”, n. 7).
  Esses desvios, sem dúvida, “contribuem para obscurecer a reta fé e a doutrina católica sobre este admirável Sacramento” (Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, n. 10), principalmente neste período de maior afluência de turistas ao nosso país e, aqui, à Catedral e à capela do Santuário Cristo Redentor do Corcovado, entre outros pontos.

  Os sacerdotes que respondem pelo respeito a esses e a outros lugares sagrados esperam contar com a colaboração dos visitantes. Dizia São Josemaria Escrivá: “Lembro-me de como as pessoas se preparavam para comungar: havia esmero em arrumar bem a alma e o corpo. As melhores roupas, o cabelo bem penteado, o corpo fisicamente limpo, talvez até com um pouco de perfume. Eram delicadezas próprias de gente enamorada, de almas finas e retas, que sabiam pagar Amor com amor”. Afirmava ainda: “Quando na terra se recebem pessoas investidas de autoridade, preparam-se luzes, música e vestes de gala. Para hospedarmos Cristo na nossa alma, de que maneira devemos preparar-nos?” (Homilias sobre a Eucaristia).
  O novo “Catecismo da Igreja Católica” nos adverte: “A atitude corporal – gestos, roupa – há de traduzir o respeito, a solenidade, a alegria deste momento em que Cristo se torna nosso hóspede” (n. 1387). Nas mais diversas religiões, existe o lugar sagrado e quem nele entra, deve fazê-lo do modo de agir e de vestir condizente com o Sagrado. Em uma igreja católica acresce uma observância de regras mais exigentes, pois nossa fé nos ilumina com a presença real no Sacrário, em cujo interior está a Eucaristia, Jesus Cristo vivo sob as espécies sacramentais.
  Mesmo os que não pertencem à Igreja Católica sentem-se na obrigação de uma postura adequada pelo mais elementar bom senso. O Senhor Jesus, tão compadecido no trato com os pecadores não recusa o uso de termos severos nesse assunto, o que revela a importância do que diz respeito à casa de Deus.
  Há poucos anos, por diversas vezes, o Beato de Deus João Paulo II se manifestou sobre observância das normas litúrgicas. Na Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, com data de 17 de abril de 2003, assim nos ensinava sobre o assunto: “Por isso, sinto o dever de fazer um veemente apelo para que as normas litúrgicas sejam observadas, com grande fidelidade, na celebração eucarística. Constituem uma expressão concreta da autêntica eclesialidade da Eucaristia; tal é o seu sentido mais profundo. A liturgia nunca é propriedade privada de alguém, nem do celebrante, nem da comunidade onde são celebrados os santos mistérios (…). A celebração da Missa segundo as normas litúrgicas, e a comunidade que às mesmas adere, demonstram de modo silencioso, mas significativo, o seu amor à Igreja”.
  O mesmo Sumo Pontífice, a 7 de outubro de 2004, em sua Carta Apostólica “Mane Nobiscum Domine”, assim se expressou: “Torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo”, não só por ocasião da missa, mas em conseqüência da presença real na Eucaristia. A atitude de quem está no templo “seja caracterizada por um respeito extremo”. (“Mane Nobiscum Domine”, nº 18).
  Evocando textos da Sagrada Escritura acerca do respeito pelo sagrado, cito ainda dois exemplos. No Antigo Testamento, o episódio da “sarça ardente” narra o que Deus diz a Moisés e elucida a sacralidade do lugar onde se encontra: “Tira as sandálias dos teus pés, porque o lugar em que te encontras, é uma terra santa” (Ex 3,5). No Novo Testamento, a atitude de Jesus reprova o desrespeito dos que ali se davam ao comércio: “Jesus entrou no Templo e expulsou todos os vendedores e compradores que lá estavam e disse-lhes: A minha casa será chamada casa de oração. Vós, porém, fazeis dela um covil de ladrões” (Mt 21, 13ss). Nas palavras de Jesus ecoa, não somente o fato de que a razão de ser do lugar sagrado é o culto divino, mas também um sinal da presença de Deus entre os homens e da religiosidade do povo.
  Todas essas considerações nos levam a observar as normas a ser seguidas nas celebrações litúrgicas e nas visitas aos lugares de culto. Nos nossos dias, de maior movimentação pelo turismo, é importante não esquecer a diferença existente entre a visita a uma pinacoteca e ao lugar sagrado em si mesmo e, particularmente, durante a celebração litúrgica. Dois aspectos: o silêncio e o vestuário. O acolhimento aos que desejam entrar nas igrejas ou capelas não exclui a observância de certos requisitos por respeito ao sagrado e o clima espiritual a ser mantido.
  Aqui no Rio de Janeiro, entre outros, cito a capela no Santuário Cristo Redentor do Corcovado, a Catedral e igrejas próximas à orla marítima. Não só durante as celebrações litúrgicas, as razões valem para quem tem fé, mas também para qualquer visitante por respeito ao lugar sagrado. Na entrada costuma haver advertências aos menos avisados sobre as exigências decorrentes da nossa fé. A observação das mesmas poupa eventuais aborrecimentos.
  Os lugares de culto, bem cuidados, são eficazes meios de evangelização.

Cardeal D. Eugênio de Araújo Sales
Arcebispo emérito do Rio de Janeiro

Um comentário:

  1. Nádia Maria
    Com certeza !!! devemos edificar e respeitar a casa do Senhor!.

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