A Igreja Católica Apostólica Brasileira ou "Igrejas Católicas
Apostólicas Brasileiras" (ICAB), têm lançado confusão no público, pois
pretendem guardar a aparência de Igreja Católica e facilitam a praxe religiosa
dos seus seguidores. - Daí a conveniência de uma análise precisa do fenômeno.
1. Origem da ICAB
A "Igreja Católica
Apostólica Brasileira" (ICAB) tem como fundador D. Carlos Duarte Costa.
Este nasceu aos 21 de julho de 1888 no Rio de Janeiro e recebeu a ordenação
sacerdotal a 1º de abril de 1911. Aos 4 de julho de 1924 foi nomeado bispo de
Botucatu (SP). Pouco feliz foi o governo do novo prelado, que se viu envolvido
em questões de mística desorientada (devoções pouco condizentes com a reta fé);
também enfrentou problemas de administração financeira e de embates políticos.
Em conseqüência foi afastado de sua diocese e nomeado bispo titular de Maura
(na Mauritânia, África Ocidental); fixou então residência no Rio de Janeiro. Em
breve, porém, D. Carlos viu-se a braços com novas lutas: em 1942 o Brasil
entrou em guerra contra o nazi-fascismo; nessa ocasião o bispo apelou
publicamente para o Presidente da República a fim de que interviesse na Igreja
e expulsasse bispos e sacerdotes "fascistas, nazistas e falangistas";
acusou a Ação Católica de espionagem em favor do totalitarismo da direita;
prefaciou elogiosamente o livro "O Poder Soviético" de Hewlet Johnson
e atacou por escrito as Forças Armadas do Brasil. Em conseqüência, foi preso
como comunista e enviado a uma cidade de Minas Gerais, onde permaneceu na
qualidade de hóspede.
Diante dos rumores que se propagavam em torno da pessoa de D.
Carlos, as autoridades eclesiásticas procuraram apaziguá-lo. Como isto não
desse resultado, D. Carlos em 1944 foi suspenso de ordens, isto é, perdeu a
autorização para exercer as funções do sagrado ministério. Esta medida de nada
serviu; por isto D. Carlos foi excomungado aos 6 de julho de 1945; neste mesmo
dia resolveu fundar a sua Igreja, dita "Igreja Católica Apostólica
Brasileira". Em vista desta atitude, o Santo Ofício declarou D. Carlos excomungado
vitandus (= a ser evitado) aos 3 de julho de 1946.
Um dos primeiros atos públicos da ICAB foi a fundação do
"Partido Socialista Cristão", sob a orientação de D. Carlos. Este
chegou a apresentar um candidato à presidência da República, o qual, porém, se
desentendeu em breve, ficando fracassado o novo Partido. D. Carlos promoveu
direta ou indiretamente a ordenação de numerosos "bispos" e
"presbíteros", cuja formação doutrinária e cultural era precária. O
infeliz prelado veio a falecer aos 26 de março de 1961; terminou a vida de
maneira desvairada, obcecado por paixões, que se exprimiam em injúrias através
do seu jornal "LUTA". Todavia um Concílio Nacional da ICAB, aos 6 de
julho de 1970, chegou a atribuir-lhe o título de "Santo": "São
Carlos Duarte"!
2. Doutrina e atuação da ICAB
Em matéria de doutrina, a ICAB procura reproduzir a da Igreja
Católica, excluindo (como se compreende) o primado de Pedro... A sua mensagem
teológica é muito diluída, visão que os seus orientadores pouco estudam. Vários
destes são homens que tentaram chegar ao sacerdócio na Igreja Católica, mas,
por um motivo ou outro, não o conseguiram; então passaram-se para a ICAB, onde
o estudo e o acesso às ordens sagradas lhes foram extremamente facilitados.
Infelizmente nota-se nos membros da hierarquia e nos fiéis da ICAB certo
oportunismo, ou seja, a procura de atender a interesses pessoais: ordenação
"sacerdotal" ou "episcopal", lucros financeiros mediante
celebração do culto, "casamento" facilitado em favor de pessoas já
casadas, "batizados" sem preparação dos pais e padrinhos... Dir-se-ia
que a ICAB procura adeptos a todo e qualquer preço; lê-se, por exemplo, na
Lista Telefônica de assinantes classificados do Rio de Janeiro: "ICAB,
Igreja Católica Apostólica Brasileira, Paróquia São Jorge: casamento com ou sem
efeito civil de pessoas solteiras, desquitadas e divorciadas. Crismas.
Consagrações. Também em residências ou Clubes Realengo, Piraquara".
Dado que a ICAB se adapta às diversas oportunidades de crescer, há
atualmente muitos ramos da mesma independentes uns dos outros, o que sugere a
denominação "Igrejas Católicas Apostólicas Brasileiras" em vez de
"Igreja Brasileira". O que dá certo êxito a essa corrente religiosa,
são os dois seguintes fatores:
1) A reprodução dos ritos e a conservação dos símbolos (inclusive da linguagem)
da Igreja Católica. Muitas pessoas não conseguem distinguir entre a Igreja
Católica e a Igreja Brasileira. Parece haver a intenção de guardar em tudo as
aparências da Igreja Católica entre os responsáveis das Igrejas Brasileiras.
2) O procedimento facilitário e oportunista dos mentores da ICAB. Esta não
apresenta normas definidas de Direito Eclesiástico, de modo que os seus
ministros são capazes de "legitimar" religiosamente qualquer situação
ilegal daqueles que os procuram. Este comportamento facilitário é,
naturalmente, fonte de dinheiro, pois a ICAB sabe prevalecer-se da generosidade
dos fiéis. A exploração se torna ainda mais fácil em virtude da ignorância
religiosa de muitos cidadãos brasileiros.
A falta de estrutura doutrinária e disciplinar das Igrejas
Brasileiras lhes tira a coesão desejável e faz que não tenham quase significado
no cenário público do Brasil; apesar disto, conseguem penetrar dentro da
população desprevenida da nossa Pátria, favorecendo o ecleticismo e solapando a
vitalidade religiosa de muitos católicos. A propósito pergunta-se:
3. Qual a validade dos ritos da ICAB?
Respondemos em três etapas:
3.1. A eficácia dos Sacramentos
a) Um sacramento é um rito mediante o qual Cristo comunica as graças da
Redenção ex opere operato, ou seja, desde que o ministro respectivo aplique a
matéria (água, pão, vinho, óleo) e a forma devida (as palavras que indicam o
efeito da matéria).
b) Os sacramentos não são eficazes ou não conferem a graça em virtude da
santidade do homem (sacerdote, bispo) que os administra mas sim por ação do
próprio Cristo, que se serve do homem como instrumento de sua obra redentora.
Todavia, para a validade do sacramento, requer-se que:
- O ministro tenha sido validamente ordenado padre ou bispo;
- Tenha, ao administrar o sacramento, a intenção de fazer o que Cristo queria
que fosse feito, ou a intenção de se identificar com as intenções de Cristo,
Sumo Sacerdote.
3.2. Que diz a ICAB?
Os adeptos da ICAB afirmam que
- Seus ministros foram validamente ordenados padres e bispos, pois receberam a
sucessão apostólica das mãos de D. Carlos Duarte Costa, que foi verdadeiro
bispo da Igreja Católica, sagrado por D. Sebastião Leme. Embora Dom Carlos se
tenha separado da Igreja Católica, conservou o caráter episcopal perenemente
impresso em sua alma
- D. Carlos e os bispos que ele ordenou sempre fizeram questão de transmitir as
ordens sacras segundo o ritual exato adotado pela Igreja Católica (usando mesmo
o latim em algumas ocasiões);
- As missas, os batizados e outros ritos ocorrentes nas cerimônias de culto da
ICAB obedecem estritamente à essência do Ritual sempre vigente na Igreja
Católica. Por conseguinte, concluem os ministros da ICAB, a Igreja Brasileira
possui autênticos bispos e presbíteros, e ministra validamente os sacramentos.
3.3. E que diz a Igreja Católica?
a) Embora os ministros da Igreja Brasileira apliquem exatamente a matéria e a
forma de cada sacramento, falta-lhes algo de essencial para que seus
sacramentos sejam válidos, isto é, a intenção de fazer o que Cristo quis fosse
feito. Na verdade, os ministros da ICAB, mediante os seus ritos, intencionam
criar e desenvolver uma "Igreja" separada da única Igreja fundada por
Cristo; tal "Igreja" nova já não professa as verdades do Credo
Apostólico, mas se entrega ao ecleticismo religioso: protestantes, espíritas,
maçons e comunistas podem ser igualmente membros da ICAB. Sim; a revista
"A Patena", revista da "diocese da Baixada Fluminense" da
ICAB, em seu nº 3 de 1971, 4ª capa, diz que a Igreja Brasileira
"religiosamente é católica, porque aceita em seu grêmio cristãos de
qualquer mentalidade, sem repelir os que sejam ou se digam protestantes,
espíritas, maçons, católicos-romanos etc.". Isto significa que a Igreja
Brasileira vem a ser uma sociedade filantrópica, humanitária, mas já não tem a
mensagem religiosa definida que o Cristo confiou ao mundo e que o Símbolo de fé
apostólico professa. Donde se vê que a ação dos ministros da ICAB carece
daquela intenção que é essencial para a validade dos sacramentos: a intenção de
fazer o que Cristo faz mediante os sacramentos.
b) Já que a ICAB se ramificou, dando origem a múltiplas "Igrejas",
Ordens e Irmandades independentes, já não se pode saber até que ponto nas
denominações "católico-brasileiras" se conserva a fidelidade aos
ritos sacramentais; com o tempo as arbitrariedades e os desvios facilmente se
introduzem nas pequenas comunidades. Em conseqüência, a Igreja Católica não
reconhece as ordenações conferidas pela ICAB, muito menos reconhece a
autenticidade das Missas e dos sacramentos celebrados pela ICAB.
4. Observações Finais
A Igreja fundada por Cristo (cf. Mt 16,16-19) é Católica (aberta a
todos os homens), Apostólica (baseada sobre a ação missionária dos doze
Apóstolos) e Romana, isto é, governada visivelmente por Pedro e seus
sucessores, que têm sede em Roma (como poderiam ter em Jerusalém, Antioquia,
Alexandria... se a Providência Divina tivesse encaminhado Pedro e os
acontecimentos iniciais da história da Igreja em rumo diverso do que realmente
ocorreu).
O título de "Romana" portanto não significa que a Igreja
de Cristo esteja presa aos interesses políticos da cidade de Roma ou da nação
italiana; nem implica subordinação dos fiéis católicos do Brasil a uma potência
estrangeira, mas apenas indica que essa Santa Igreja tem seu chefe visível,
instituída por Cristo, na cidade de Roma.
Dom Estêvão Bettencourt
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