Estamos no capítulo 23 de
São Mateus; nos aproximamos do fim desse Evangelho e dessa maneira também do
fim do Ano litúrgico, pois já estamos no XXXI Domingo do Tempo Comum. Ao se
aproximar de sua entrega, Jesus deixa aos discípulos seus ensinamentos mais
importantes e elementares. Um desses está registrado no Evangelho de hoje: “Os
mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés.
Por isso, deveis fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imiteis suas
ações!” Jesus nos apresenta uma chave fundamental para a vida: é necessário
distinguir entre “palavras” e “ações”. O ideal é que ambas as coisas estejam
unidas na pessoa: palavras boas, boas atitudes; no entanto, para nossa vergonha
e rubor, nosso agir não segue muitas vezes nosso falar.
Jesus está falando conosco sobre “coerência”,
isto é, sinceridade nas palavras e correspondência nos atos; falar e fazer. A
grande beleza do ser está neste equilíbrio. Diante dos seus discípulos Jesus
atesta que os que conhecem a Palavra de Deus, que conhecem o bem podem ensinar
acertadamente, podem indicar o caminho certo, podem mostrar o bem e a verdade.
No entanto, apesar de apresentarem tudo o que é bom, podem acabar não agindo
como ensinam. De um lado, Jesus reconhece que devemos sempre seguir o bem
ensinado, o bom conselho; de outro, Jesus nos revela que haverá sempre
incoerências entre os homens. Isto deve nos levar a duas conclusões: primeiro,
que mesmo que alguém haja mal, mas nos ensine o bem, devemos seguir o que foi
ensinado, sem nos perdermos nos maus exemplos e segundo, devemos fugir da
hipocrisia, tentando sempre harmonizar o falar e o agir, o ensinar e o
proceder.
Para muitas pessoas, apegadas ao que se vê, a
queda, o erro, o pecado de alguém podem abalar de maneira forte a sua fé e o
seu seguimento a Jesus. Por exemplo: se alguém se apegou bastante a um padre e
este, infelizmente, erra gravemente, a tentação daquele fiel é não acreditar
mais em nada do que o sacerdote ensinou. Este é o maior erro, pois não seguimos
pessoas, seguimos a verdade de Cristo; não seguimos o modelo dos outros
pecadores, mas de Cristo, de sua Mãe Santíssima e dos santos. Muitos não querem
seguir a Igreja porque dizem que aqui há pecadores, há falsidades, há fofocas,
há maledicências. E de fato, estas coisas existem aqui e em todos os
aglomerados humanos. Onde há ser humano, há erros e acertos. Portanto, não é se
afastando da Igreja que evitaremos a falta de coerência, ela está em cada um de
nós. Alguém que diz que não vem à Igreja porque aqui existem pessoas falíveis,
é alguém que tenta esconder seus próprios erros, sua preguiça, seu comodismo
atrás de uma falsa concepção de zelo, de pessoa certa e irrepreensível; se
alguém quer fugir do pecado dos outros, então não deve viver no meio da
sociedade, mas a sós, lutando contra os próprios.
Embora devamos viver com a realidade da
hipocrisia, a falta de coerência, a falta do testemunho cristão é para nós um
escândalo. Como discípulos de Jesus, devíamos buscar ao máximo as virtudes, o
bem, a perfeição. Infelizmente, nossas quedas são uma vergonha para o
cristianismo. Devíamos buscar todos os dias esse equilíbrio entre a fé e a
vida, entre o que cremos e o que vivemos, entre o que professamos e o que
agimos. Não conheço de perto outras religiões, mas às vezes tenho a impressão
de que os católicos são os fiéis mais flutuantes da religião. Hoje estão aqui,
amanhã já não estão; neste fim de semana vêm à Missa, no próximo não; neste ano
trabalham pela Igreja, no próximo nem vêm a ela... É uma dura realidade! É uma
feia realidade! Por que será que nos acostumamos às incoerências? Por que é tão
difícil perseverar no bem? Por que não damos quando podemos dar? Por que não
agimos quando podemos agir? Por que entre as pessoas e Deus, preferimos mais as
pessoas? Por que entre o lazer e a oração, escolhemos o lazer? Por que entre as
ocupações diversas e a Igreja, nos entregamos às ocupações?
Só porque Jesus nos ensinou a seguir o bem,
não obstante o mal que se faz, não nos dá o direito de nos acostumar com a
incoerência, com a falta de testemunho, com a contradição entre palavras e ações.
Que possamos iluminar mais este nosso mundo, nosso lar, nosso trabalho, nossa
paróquia. Que nossa boca professe as verdades que o coração acredita e que
nossos atos sejam expressão do que falamos e oramos. Maria, Mãe de Deus e
nossa, Senhora do Rosário, Mulher que disse “sim” com a boca e com a vida,
interceda por nós.
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