No primeiro Domingo da
Quaresma somos conduzidos ao deserto, com Cristo, para lutar contra o mal e
vencê-lo. Na página do Evangelho que acabamos de escutar, o evangelista Marcos
nos apresenta a idéia fundamental de que o Cristo, movido pelo Espírito, vence
a tentação de Satanás antes de iniciar seu ministério público.
O Espírito é o próprio Deus que nos move para
a luta, para o combate. Deus não nos esconde da tentação, antes espera que nos
confrontemos com ela, a fim de vencê-la e nos tornarmos mais fortes e aptos
para o Reino. O deserto apresentado por Marcos não é um detalhe acidental; é
lugar de provação e reflexão. O próprio João Batista também o teria habitado.
Parece que Marcos deseja fazer um paralelo entre o Batista e o Messias; o
destino de João prefigura o destino do Senhor: como João, que habitou o deserto
e foi provado e agora preso e depois morto, também Jesus receberá o mesmo
desprezo.
O embate entre Cristo e Satanás se dá na
arena do deserto, durante quarenta dias. Este Evangelho, ainda que muito breve,
nos dá as características marcantes deste tempo litúrgico que acabamos de
entrar, a quaresma. Nela, somos chamados a percorrer os caminhos de Cristo.
Serão quarenta dias de intensa luta espiritual contra o mal, para chegarmos
alegres à Páscoa do Senhor. Satanás submete Jesus a uma espécie de “teste”,
provocando-O em sua fidelidade ao Pai. Também nós somos submetidos a tentações
e só sairemos vencedores se cumprirmos o mandato de Jesus: “Convertei-vos e
crede no Evangelho!”
Quando o Senhor nos afirma que o “Tempo já se
completou e o Reino de Deus está próximo”, quer nos indicar com isso que n’Ele
está a plenitude da revelação e, portanto, o tempo do mundo abreviou-se. Essa
expressão de Jesus não tem apenas um caráter escatológico, nos indicando o fim
dos tempos, mas sim um apelo sério à nossa mudança de vida o quanto antes. A
conversão não deve ser adiada! Deus já fez aliança conosco (primeira leitura),
renovada pela morte de Cristo (segunda leitura), então não devemos esperar para
nos converter e crer no Evangelho; o Reino de Deus exigirá de nós uma
reorientação da vida.
Entrando nesta Quaresma, este tempo favorável
de conversão, devemos nos examinar, refletir sobre a vida que levamos, sobre as
escolhas que fazemos, o “sim” e o “não” que proferimos no dia a dia. Este é um
tempo para nossa renovação interior e exterior; tempo de dar mais tempo a Deus,
de escutá-Lo e de servi-Lo melhor. Como Jesus, devemos adentrar o deserto e
estar prontos para lutar contra as tentações. Mais: devemos nos preparar para
nos converter e acreditar mais no Evangelho, isto é, não podemos querer a
santidade apenas na Quaresma, mas para além dela. Infelizmente, para alguns
cristãos, a busca da perfeição e o contato com a Palavra de Deus, o jejum e
outras penitências só são exercidas no tempo da Quaresma, como se fora deste
tempo pudéssemos viver de maneira relaxada e indolente, em pecado e longe do
exercício pleno da religião.
Vamos com Cristo ao deserto! Vamos para
vencer o mal! Vamos para nos converter e acreditar mais no Evangelho!
Vamos!
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