« É este um vaso de eleição
para levar o meu nome diante das gentes » (At 9, 15)
I. — De que espécie de vaso
foi o bem-aventurado Paulo, diz-nos a Escritura: « Como um vaso de ouro maciço,
ornado de toda a casta de pedras preciosas » (Ecle 50, 10). Foi um vaso de ouro
pelo fulgor da sabedoria: « E o ouro deste país é ótimo » (Gn 2, 12). Foi um
vaso maciço pela virtude da caridade. É o próprio Apóstolo quem diz: « Porque
eu estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados,
nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a força, nem a
altura, nem a profundidade, nem nenhuma outra criatura nos poderá separar do
amor de Deus » (Rm 8, 38-39). Finalmente, foi um vaso ornado de toda a casta de
pedras preciosas, isto é, ornado com todas as virtudes.
De que espécie de vaso foi o
bem-aventurado Paulo, diz-nos também suas obras. Com efeito, ensinou os
mistérios da excelentíssima divindade, que são próprios da sabedoria; louvou do
modo mais excelente a caridade; instruiu os homens sobre as diversas virtudes.
II. — É próprio dos vasos
que sejam cheios de algum líquido. Encontra-se uma certa diversidade entre os
vasos, pois alguns são de vinho, outros de óleo e assim por diante; ora, assim
como os vasos, os homens são enchidos com graças diversas.
Ora, este vaso de que
tratamos aqui foi cumulado com um licor precioso: o nome de Cristo, sobre o
qual diz a Escritura: « O teu nome é como o óleo derramado » (Ct 1, 2). É por
isso que diz o trecho da Escritura citado acima: « ... para levar o meu nome ».
De fato, Paulo parece ter sido todo cheio deste nome, pois teve-o no
entendimento, cf. « Julguei não devia saber coisa alguma entre vós senão a Jesus
Cristo, e este crucificado » (1 Cor 2, 2); teve-o no amor, cf. « Quem nos
separará, pois, do amor de Cristo? » (Rm 8, 35); teve-o igualmente em todos os
momentos de sua vida, cf. « já não sou que vivo, é Cristo que vive em mim » (Gl
2, 20).
III. — Quanto ao uso,
deve-se considerar que todo vaso tem uma destinação: uns têm um destino mais
honrável; outros, um mais vil. Este, porém, teve um destino nobre, pois foi o
vaso que portou o divino nome: « ... para levar o meu nome ».
Ora, o bem-aventurado Paulo
levou o nome do Cristo:
1. No corpo, imitando a vida
e paixão de Cristo. « trago no meu corpo os estigmas do Senhor Jesus » (Gl 6,
17).
2. Nos lábios; nas suas
epístolas, repete freqüentemente o nome de Cristo, pois a boca fala do que
abunda no coração. Por isso, pode ser representado pela pomba: « a qual voltou
a ele pela tarde, trazendo no bico um ramo de oliveira com as folhas verdes. »
(Gn 8, 11). A Oliva significa a misericórdia; em conformidade a isso, o ramo de
oliveira simboliza o nome de Jesus, que também significa misericórdia: « porás
nele o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo » (Mt 1, 21). Ora, este
ramo de folhas verdes Paulo o trouxe à arca, isto é, à Igreja, quando,
demonstrando a graça e a misericórdia de Cristo, exprimiu muitas vezes o
significado e poder de seu nome.
IV. — Quanto ao fruto. Alguns
homens são como vasos inúteis, por causa do pecado ou do erro. Mas o
bem-aventurado Paulo foi isento do pecado e do erro e, por isso, foi um útil
vaso de eleição. E a utilidade ou fruto deste vaso está expressa na passagem: «
para levar o meu nome diante das gentes »
In Prolog. ad Rom.
(P. D. Mézard, O. P., Meditationes
ex Operibus S. Thomae.)
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