sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A maleta do Papa


  No dia 14 de outubro de 1978, o então Karol Wojtyla foi em peregrinação ao santuário da Mentorella, no Lácio, para depois ficar para o almoço num hotelzinho próximo. Uma vez na estrada, quebrou o carro e ficou ali parado. Desceu para pedir uma carona até que um motorista do Acotral, Candido Nardi, levou-o a bordo do seu ônibus nos arredores de Guadagnolo, uma aldeia a 50 km de Roma. Porque aquele que tinha explicado ser um simples sacerdote tinha dito que devia chegar ao Vaticano antes das 13.30 (na época o conclave era "selado", quem não chegasse a tempo ficava irremediavelmente fora), foi forçado a pular todas as paradas, até Palestrina, onde foi interceptado o ônibus direto para a capital. Um milagre fez que Wojtyla chegasse a tempo para atingir o limiar da Capela Sistina, da qual teria saído, dois dias depois, com a batina papal, graças à inspiração do Espírito Santo, aos votos dos cardeais, e à ajuda providencial de um motorista de ônibus público, partícipe inconsciente do início de um pontificado.

  Esta anedota, tornada lendária já, e muitas outras histórias são as "pérolas" que enriquecem o novo livro do vaticanista Fabio Zavattaro Vaticano: La valigia di Papa Wojtyla (A maleta do Papa Wojtyla), apresentado em Roma, terça-feira 15 de novembro, no Palácio do Vicariato Maffei Marescotti. Uma espécie de "diário de bordo", onde o autor, que desde 1983 tem acompanhado como enviado muitas viagens do Papa na Itália e no exterior, tece histórias, episódios inéditos, curiosidades, pessoas e lugares para trazer para fora um perfil ainda desconhecido , quase irônico, de João Paulo II.
  Reencontramos, folheando as páginas do livro, muitas histórias que nem sempre tiveram a honra das Crônicas, mas que acompanharam a preparação das 104 viagens internacionais do Papa: de Jerusalém à Cuba de Fidel Castro, passando pelos índios do norte do Canadá, os padres perseguidos pelo regime na Ucrânia e a sua querida pátria, a Polônia. Um livro-verdade que mostra, não apenas a figura do Pontífice, mas também do homem que foi João Paulo II. Um homem que se comoveu do avião ao ver o povo mexicano cumprimentá-lo com espelhinhos apontados para o sol e que, na sua primeira viagem, também no México, parou por mais de uma hora para conversar com repórteres a 10 mil pés altura, como lembrou durante a reunião, Valentina Alazraki, correspondente mexicana, também ela no séquito do Papa nas suas inumeráveis peregrinações.
  Um homem que, como afirmou monsenhor Claudio Maria Celli, presidente do Pontifício Conselho das comunicações, também ele convidado para a conferência, “sentia tão forte o desejo missionário que pedia continuamente partir para a China, ainda mesmo nos momentos que a doença o prendia em Roma."
  Um homem, que por meio da comunicação, da mídia, mas também de gestos simples, desejava entrar na cultura, nas tradições de cada povo“ a fim de levar adiante a sua missão cristã quebrando as barreiras do mundo e dos prejuízos”, acrescentou Marco Simeon, diretor da RAI vaticano. "João Paulo II é a encarnação viva das palavras do Evangelho: Ide e anunciai a Cristo até os confins da Terra", declarou, durante a apresentação do livro, monsenhor Liberio Andreatta, vice-presidente da ORP (Obra Romana de peregrinação), da qual o Palácio do vicariato é a sede. "O Papa Wojtyla foi o maior tour operator (operador turístico) do milênio. Levou Cristo ao mundo e o mundo à Cristo", acrescentou monsenhor Andreatta.
  Portanto, a mala sempre pronta de um Papa que fez das peregrinações o ponto central do seu Magistério. Uma mala cheia não só do necessário para partir, mas também das lembranças, das palavras, das intenções e dos pequenos toques como a piada que corria no Vaticano na época do seu pontificado: “Qual é a diferença entre Deus e o Papa? Que Deus está em toda parte e o Papa já esteve”.


Fonte: Zenit

Um comentário:

  1. Estou muito curiosa para ler este livro, este verdadeiro tesouro para nós cristãos.

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