Crer
junto aos outros
9.
Essencialmente, a fé é sempre também um acreditar junto com os outros. Ninguém
pode crer sozinho. Recebemos a fé, diz-nos Paulo, através da escuta. E a escuta
é um processo que requer o estar juntos de modo espiritual e físico. Somente na
grande comunhão dos fiéis de todos os tempos que encontraram a Cristo e foram
encontrados por Ele, posso crer. O fato de poder crer devo-o, antes de mais
nada, a Deus que Se dirige a mim e, por assim dizer, «acende» a minha fé. Mas,
de um modo muito concreto, devo a minha fé àqueles que vivem ao meu redor e que
acreditaram antes de mim e acreditam juntamente comigo. Este grande «com», sem
o qual não pode haver qualquer fé pessoal, é a Igreja. E esta Igreja não se
detém diante das fronteiras dos países; demonstra-o as nacionalidades dos
Santos que mencionei: Hungria, Inglaterra, Irlanda e Itália. Daqui se vê como é
importante a permuta espiritual, que se dilata através da Igreja inteira. Sim,
para o desenvolvimento da Igreja no nosso País foi, e continua a ser,
fundamental que acreditemos juntos em todos os Continentes e aprendamos uns dos
outros a acreditar. Se nos abrirmos à fé integral ao longo de toda a história e
nos seus testemunhos em toda a Igreja, então a fé católica tem um futuro, mesmo
como força pública na Alemanha. Ao mesmo tempo as figuras dos Santos, de que
falei, mostram-nos a grande fecundidade de uma vida com Deus, a fecundidade
deste amor radical a Deus e ao próximo. Os Santos, mesmo onde são poucos, mudam
o mundo.
Erfurt,
23 de setembro de 2011.
Deus e o
futuro do homem
10. «Onde
há Deus, há futuro»: assim diz o lema destas jornadas. Como Sucessor do
Apóstolo Pedro, a quem o Senhor – no Cenáculo – precisamente deu o encargo de
confirmar os irmãos (cf. Lc 22, 32), de boa vontade vim ter
convosco, nesta bela cidade, para rezarmos juntos, proclamar a palavra de Deus
e celebrarmos juntos a Eucaristia. Peço a vossa oração para que estes dias
sejam frutuosos, para que Deus confirme a nossa fé, revigore a nossa esperança
e aumente o nosso amor. Oxalá nos tornemos de novo, nestes dias, cientes de
quanto Deus nos ama e que Ele é verdadeiramente bom. E assim, devemos ser
colmados pela confiança de que Ele é bom para conosco, que tem um poder
benévolo e que Ele nos leva, com tudo o que faz mover o nosso coração e é
importante para nós, nas suas mãos. E queremos nos colocar conscientemente nas
suas mãos. N’Ele, o nosso futuro está assegurado; Ele dá sentido à nossa vida e
pode levá-la à plenitude. Que o Senhor vos acompanhe na paz e torne a nós todos
mensageiros da sua paz!
Freiburg,
24 de setembro de 2011.
Ortodoxos:
nossa proximidade
11. Sinto
grande alegria por nos encontrarmos hoje aqui juntos. De coração vos agradeço a
todos pela presença e a possibilidade desta partilha amiga. De modo particular,
agradeço-lhe, caro Metropolita Augoustinos, pelas suas palavras profundas.
Chamou-me a atenção particularmente o que o senhor disse sobre a Mãe de Deus e
sobre os Santos que abraçam e unem todos os séculos. E, neste contexto,
apraz-me repetir aqui o que disse noutro lugar: sem dúvida, de entre as Igrejas
e as Comunidades cristãs, a Ortodoxia é teologicamente a que está mais próxima
de nós; católicos e ortodoxos conservaram a mesma estrutura da Igreja dos
primórdios. Neste sentido, todos nós somos «Igreja dos primórdios», que
entretanto está sempre presente e sempre é nova. E deste modo, não obstante as
dificuldades que de um ponto de vista humano não cessam de aparecer, ousamos
esperar que não esteja demasiado longe o dia em que poderemos de novo celebrar
juntos a Eucaristia (cf. Luz do Mundo. Uma conversa com Peter Seewald,
pp. 91-92).Com interesse e simpatia, a Igreja Católica – e eu pessoalmente –
acompanhamos o desenvolvimento das comunidades ortodoxas na Europa ocidental,
que têm registrado um crescimento notável.
Freiburg,
24 de setembro de 2011.
Conjugar
fé e razão
12. A
preparação para o sacerdócio, o caminho para ele requer, antes de mais, também
o estudo. Não se trata de uma eventualidade acadêmica que se deu na Igreja
ocidental, mas é algo de essencial. Todos conhecemos estas palavras de São
Pedro: «Estai sempre prontos a dar, em resposta a todo aquele que vo-lo peça,
o logos da vossa fé» (cf. 1 Pd 3, 15). Hoje,
o nosso mundo é um mundo racionalista e condicionado pelo caráter científico,
embora este seja muitas vezes só aparente. Mas este espírito científico de
querer compreender, explicar, de poder saber, da rejeição de tudo o que não
seja racional é predominante no nosso tempo. Nisto há também algo de grande,
apesar de frequentemente se esconder por detrás muita presunção e insensatez. A
fé não é um mundo paralelo do sentimento, que possamos permitir-nos como um
extra, mas é aquilo que abraça o todo, que lhe dá sentido, interpreta-o e lhe
dá também as orientações éticas interiores, para que seja compreendido e vivido
apontando para Deus e a partir de Deus. Por isso é importante estar informados,
compreender, manter a mente aberta, aprender.
Freiburg,
24 de setembro de 2011.
Insídias
do relativismo subliminar
13.
Vivemos num tempo caracterizado em grande parte por um relativismo subliminar
que penetra todos os âmbitos da vida. Às vezes, este relativismo torna-se
combativo, lançando-se contra pessoas que dizem saber onde se encontra a
verdade ou o sentido da vida.
E notamos
como este relativismo exerce uma influência cada vez maior sobre as relações humanas
e a sociedade. Isto exprime-se também na inconstância e descontinuidade de vida
de muitas pessoas e num individualismo excessivo. Há pessoas que não parecem
capazes de renunciar de modo algum a determinada coisa ou de fazer um
sacrifício pelos outros. Também o compromisso altruísta pelo bem comum nos
campos sociais e culturais ou então pelos necessitados está a diminuir. Outros
já não são capazes de se unir de forma incondicional a um consorte. Quase já
não se encontra a coragem de prometer ser fiel a vida toda; a coragem de
decidir-se e dizer: agora pertenço totalmente a ti, ou então, de comprometer-se
resolutamente com a fidelidade e a veracidade, e de procurar sinceramente as
soluções dos problemas.
Freiburg,
24 de setembro de 2011.
Cristo, a
luz verdadeira
14. Ao
nosso redor pode haver a escuridão e as trevas, e todavia vemos uma luz: uma
chama pequena, minúscula, que é mais forte do que a escuridão, aparentemente
tão poderosa e insuperável. Cristo, que ressuscitou dos mortos, brilha neste
mundo, e fá-lo de modo mais claro precisamente onde tudo, segundo o juízo
humano, parece lúgubre e sem esperança. Ele venceu a morte – Ele vive – e a fé
n’Ele penetra, como uma pequena luz, tudo o que é escuro e ameaçador.
Certamente quem acredita em Jesus não é que vê sempre só o sol na vida, como se
fosse possível poupar-lhe sofrimentos e dificuldades, mas há sempre uma luz
clara que lhe indica um caminho, o caminho que conduz à vida em abundância
(cf. Jo 10, 10). Os olhos de quem acredita em Cristo
vislumbram, mesmo na noite mais escura, uma luz e vêem já o fulgor dum novo
dia.
Freiburg,
24 de setembro de 2011.
O coração
aberto
15. A
Igreja na Alemanha possui muitas instituições sociais e caritativas, onde se
cumpre o amor do próximo de forma eficaz, mesmo socialmente e até aos confins
da terra. Quero exprimir, neste momento, a minha gratidão e o meu apreço a
todos quantos estão empenhados na Cáritas alemã ou noutras
organizações, ou então que disponibilizam generosamente o seu tempo e as suas
forças para tarefas de voluntariado na Igreja. Tal serviço requer, primariamente,
uma competência objetiva e profissional; mas, no espírito do ensinamento de
Jesus, exige-se algo mais, ou seja, o coração aberto, que se deixa tocar pelo
amor de Cristo, e deste modo é prestado ao próximo, que precisa de nós, mais do
que um serviço técnico: o amor, no qual se torna visível ao outro o Deus que
ama, Cristo.
Freiburg,
25 de setembro de 2011.
Como,
quando e por que transformar a Igreja
16. Uma
vez alguém instou a Beata Madre Teresa a dizer qual seria,
segundo ela, a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi: tu e eu!
Este
pequeno episódio evidencia-nos duas coisas: por um lado, a Religiosa pretendeu
dizer ao seu interlocutor que a Igreja não são apenas os outros, não é apenas a
hierarquia, o Papa e os Bispos; a Igreja somos nós todos, os batizados. Por
outro lado, Madre Teresa parte efetivamente do pressuposto de que há motivos
para uma mudança. Há uma necessidade de mudança. Cada cristão e a comunidade
dos crentes no seu todo são chamados a uma contínua conversão.
E esta
mudança, concretamente como se deve configurar? Trata-se porventura de uma
renovação parecida com a que realiza, por exemplo, um proprietário de casa
mediante uma reestruturação ou a pintura do seu imóvel? Ou então trata-se de
uma correção para retomar a rota e percorrer, de modo mais ágil e direto, um
caminho? Certamente estes e outros aspectos são importantes, mas aqui não
podemos tratar de todos eles. Mas, cingindo-nos ao motivo fundamental da
mudança, este é a missão apostólica dos discípulos e da própria Igreja(…)Por
outras palavras, podemos dizer: a fé cristã constitui sempre, e não apenas no
nosso tempo, um escândalo para o homem. Que o Deus eterno se preocupe conosco,
seres humanos, e nos conheça; que o Inatingível, num determinado momento e num
determinado lugar, se tenha colocado ao nosso alcance; que o Imortal tenha
sofrido e morrido na cruz; que nos sejam prometidas a nós, seres mortais, a
ressurreição e a vida eterna – crer em tudo isto não passa, aos olhos dos
homens, de uma real presunção.
Este
escândalo, que não pode ser abolido se não se quer abolir o cristianismo, foi
infelizmente encoberto, mesmo recentemente, por outros tristes escândalos dos
anunciadores da fé. Cria-se uma situação perigosa, quando estes escândalos
ocupam o lugar do skandalon primordial da Cruz tornando-o
assim inacessível, isto é, quando escondem a verdadeira exigência cristã por
trás da incongruência dos seus mensageiros.
Freiburg,
25 de setembro de 2011.
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