domingo, 17 de abril de 2011

Homilia - Domingo de Ramos

  A Paixão segundo São Mateus se inicia com uma pergunta curiosa de Judas: “O que me dareis se vos entregar Jesus?” A combinação com os sumos sacerdotes é de trinta moedas de prata. Ao nos debruçar sobre esta passagem, como não ver nela a pergunta que tantos de nós não fazemos diante das tentações: o que vou ganhar com isso? As propostas do Maligno são altas e, apesar de já sabermos que são todas falsas e de sabor rápido, ainda assim nos lançamos para tomar nossas 30 moedas.
  O Evangelho é bem claro ao recordar as palavras de Jesus: “Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair” A traição dos cristãos é óbvia! Os pagãos não podem ser traidores, pois desconhecem o amigo; para eles sua perdição é continuarem na ignorância, mesmo após o anúncio da Palavra; para nós, é trair a Palavra, mesmo depois dela ter sido semeada em nós. O Senhor é taxativo: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato”; quem pode abandonar a amizade com Deus é aquele que está bem junto dele. Nada mais terrível para nós, saber que somos traidores em potencial; muitas vezes só esperamos a ocasião!
  O seguimento de Jesus não é um seguimento meramente afetivo, sentimental, mas amoroso em seu sentido pleno. Quem segue a Jesus por gostos e conveniências, por meras emoções ou achando que a Igreja é um clube social de amigos com algo comum, se engana, se decepciona e logo abandonará o Cristo e sua Igreja. Jesus não nos engana, nos disse que ser seu discípulo seria uma obra difícil e comprometedora: “Esta noite, vós ficareis decepcionados por minha causa”. E perguntamos: Deus pode nos decepcionar? Não e sim. Não, Ele não nos pode decepcionar; suas promessas são eternas, seu amor também pra sempre e o seu céu, uma alegria exuberante que olhos algum viu e coração algum pressentiu. Sim, Ele pode nos decepcionar; na verdade não Ele, mas a idéia que fazemos d’Ele. Pensamos muitas vezes em Deus como Aquele Rei triunfante que vai vencer os romanos e dar liberdade à Terra de Israel, como pensavam os judeus, isto é, pensamos a Deus como o fazedor de milagres, aquele que me dá o que eu quero, que me concede um bom padrão de vida, uma existência sem sofrimento ou sem dor, um paraíso terrestre no qual minha vida é só felicidade e prazer... No entanto, neste sentido, o Senhor nos desaponta; porque não faz as nossas vontades, nem nos dá uma vida sem dores ou sofrimentos, nem uma existência sempre prazerosa e feliz, mas simplesmente uma vida, digna de ser vivida e consumida por amor e para amar, como Ele.
  Agora podemos, com mais autoridade, entrelaçar o primeiro Evangelho lido, antes da procissão de Ramos e este que acabamos de ouvir: A vida cristã não é só maravilha da graça, felicidade sem limites e alegria eterna, mas sofrimento e dor, tensão entre o viver e o morrer, entre o servir ao verdadeiro Senhor ou a ídolos fabricados por nós mesmos. Quão efêmera, quão infantil é, por vezes, nossa fé; cremos não porque é o Senhor, mas cremos porque estamos interessados nas benesses do seu reino.
  Os ramos verdes parecem que murcharam rapidamente. A euforia da presença de Deus passou. O “Hosana” entusiasmado transformou-se logo num grito furioso e cruel: “crucifica-o, crucifica-o”. Os votos de acolhida, “bendito o que vem em nome do  Senhor” agora dão lugar a um covarde brado: “fora! Fora com Ele”.
  Por que essa mudança tão repentina? Por que a multidão gritou diferente? Por que a vontade do povo se transformou de uma hora para outra? Por que Deus foi traído e abandonado? A resposta está na boca do próprio Jesus: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação; pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. Longe de ser um dualismo, uma contradição entre espírito e corpo, Jesus está falando das diferenças que podem haver entre nossa consciência de Deus e a nossa vontade, esta sim, sempre tendente ao mais fácil, ao mais cômodo, ao mais garantido. Precisamente porque não vigiamos nem oramos como convém, é que nos entregamos, com facilidade, à inconstância, à perversidade e à imprevisibilidade: somos capazes do maravilhoso e do belo e somos também capazes do terrível e do feio. Para fugir desta sina, é necessário vigiar e orar.
  “Vigiar” significa estar atento, ser prudente, conhecer a si mesmo, saber de seus limites, entender os acontecimentos da vida como sinais de Deus e, absolutamente, não se esquecer de que o mal existe, é uma pessoa e está neste mundo para fazer perder os filhos de Deus: o adversário, o demônio.
  “Orar” significa entregar-se a Deus por inteiro, sem reservas. Falar de coração a coração, sem intermédios, sem passar pelo crivo propriamente da razão, que muitas vezes confunde o coração e a vida. Orar, é passar o tempo meditando sobre o Deus da vida e a vida em Deus.
Diante de tudo isso, o que pensar? O maior gesto e o maior sentimento que se sobressaem aqui, não é o pecado dos homens, seja a traição e o desespero de Judas, seja o orgulho de Pedro ou a covardia dos Apóstolos, mas o que realmente se impõe como o maior dos gestos, é o amor de Deus: só um infinito e belo amor pode explicar as desconcertantes humilhações e loucuras do Filho de Deus.
  Caríssimos, ao entrarmos em Jerusalém com Cristo, nesta Semana Santa, acompanhemos não somente seus últimos passos históricos entre nós, mas sobretudo imitemos seu amor autêntico e perseverante. Um amor que se dá até doer, sem voltar atrás, sem diminuir ou sem exigir nada. Que a Virgem Santíssima, mulher da dor e do amor, interceda por nós e nos ajude a acolher na pequena ou grande Jerusalém do nosso coração, o Rei que deseja entrar. Amém.

5 comentários:

  1. Ameiii o blog!!! Poder ler as homilias é fixar melhor td q foi falado na Santa Missa. Vou marcar presença sempreeeeeee...
    Abraços!!!
    Andressa Moraes

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  2. É simplesmente maravilhoso ter em nossa comunidade um Padre que nos motiva e nos faz estar mais perto do Pai. Para mim Ele é um exemplo de fé e amor ao nosso Deus.

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  3. Foi mtt bonita a Semana Santa. As fotos tbm ficaram D+. bjssss

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  4. É MUITO BOM PODER ESTAR SEMPRE LENDO AS HOMILIAS DO PE. HELCIMAR, CADA UMA TEM UMA COISA QUE NOS ACRESCENTA, EM ESPECIAL AS DA SEMANA SANTA.
    TEMOS MUITO A AGRADECER A DEUS POR TER NOS ENVIADO O PE. HELCIMAR

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  5. Estou gostando muiito do blog!!! O Pe. Helcimar e o pai que fala de Deus aos corações de seus filhos sedentos de Deus.Suas homilias despertam em nós o desejo de conversão e são capazes de criar uma realidade nova nas pessoas que de coração aberto as ouvem! Que Deus o abençõe!

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