Quando
entrei no seminário, numa das primeiras aulas, nos foi apresentado um grande
mapa com a História da Igreja avançando sobre a história de todos os outros
reinos e impérios da Terra. Todas as linhas que indicavam os reinados, que os
homens haviam construído e presenciado a destruição, começavam num ponto
indefinido, mas terminavam num outro ponto bem definido. A linha da Igreja, ao
contrário, começava num ponto definido e não terminava jamais: avançava sobre
todos os reinos e impérios. Era uma linha branca que avançava sobre as outras
como marca de uma paz que não tinha fim. Naquela época, ainda adolescente,
saído de um grupo de jovens de uma pequena cidade do interior mineiro e
recém-chegado ao seminário, aquela linha branca era o sinal do mais
inconfundível orgulho. Era a minha Igreja. Era a minha opção. Era o destino que
eu mesmo havia dado à minha vida no seguimento a Jesus.
Os anos
passaram, sempre passam. Na caminhada de fé, tornei-me diácono daquela Igreja,
padre daquela Igreja, Bispo Auxiliar daquela mesma Igreja. Tornei-me o que
devia me tornar para que a linha branca continuasse, não apenas no papel, mas
nas almas das pessoas.
No mês
passado, cheguei da visita junto à Sé de Pedro. Fui numa atitude de fé até Roma,
ao encontro do Sucessor de Pedro, para receber o pálio. Fui como Arcebispo da
Arquidiocese de Niterói. Fui sozinho, mas levei a todos na oração e no coração.
Lá, eu estava representando a todos vocês. Vocês estiveram lá, comigo. Éramos
todos personagens cheios de confiança no rochedo sólido da fé, representada na
rocha de Pedro. Amados Metropolitas – o Papa nos disse no sermão – o pálio, que
vos entreguei, recordar-vos-á sempre que estais constituídos no e para o grande
mistério de comunhão que é a Igreja, edifício espiritual construído sobre
Cristo, como pedra angular, e sobre a rocha de Pedro.
Mas o que é o pálio? O pálio é uma insígnia antiga feita de
lã. No dia de santa Inês, o Papa abençoa os carneiros que vão fornecer lã para
as irmãs Beneditinas confeccionarem o pálio. No momento da celebração de
entrega, os diáconos buscam o pálio que está colocado no túmulo de São Pedro e
o entregam ao Papa. Ele, então, os abençoa e os coloca nos ombros dos
arcebispos, expressando a missão de bom pastor com Jesus, a serviço de uma
comunhão cada vez maior entre o pastor e o rebanho. Não existe rebanho se não
existir o pastor. Não existe pastor se não existir o rebanho. Um adquire sua
razão de ser na relação com o outro.
O pálio é um colarinho com dois apêndices e seis cruzes, que
representam o mistério de Jesus, bom pastor, que doa sua vida pela salvação de
todos. Os alfinetes colocados à frente, do lado esquerdo e atrás, são sinais
dos cravos da paixão de Cristo, e da cruz que é colocada nas costas do pastor, como
jugo suave, mas exigente na doação da vida.
Jesus é o bom pastor de todos os que o seguem na alegria,
nas dificuldades e nas situações impossíveis. Hoje, pesa sobre mim o desafio de
ser o reflexo desse bom pastor, presença cotidiana na vida das pessoas, nas
dificuldades e nas alegrias. Mas o peso é suave. Embora eu seja um pálido
reflexo do Grande Pastor, sou o reflexo dele que ele mesmo pediu que o
refletisse. Deus tem seus caminhos. Para nós, isso é impossível. Para Deus,
nada é impossível. Precisamos nos ajudar. Conto com vocês. Insisto que rezem
pelo bispo de vocês.
Termino com uma lembrança das mais felizes da minha vida. O
momento da entrega do pálio foi emocionante e cheio de alegria. Eu disse ao
Papa que era de Niterói, e ele me respondeu: “Eu já fui a Niterói”. Ele esteve
aqui, quando veio dar um curso para Bispos no Rio de Janeiro. Então, eu lhe fiz
o convite para vir nos visitar na Jornada Mundial da Juventude. Claro que ele
não respondeu, e nem poderia, pois a programação da Jornada é feita pelo
Pontifício Conselho dos Leigos. Mas o convite foi feito. Sementes sempre podem
ser plantadas. No dia seguinte, dia 30, houve uma audiência com o Papa para o
encontro com os Arcebispos e, novamente, ele me falou: “Eu já estive em
Niterói”. Pedi uma benção especial para toda nossa Arquidiocese. Então, ele nos
abençoou.
Deixo a todos a bênção e o carinho do Papa para nossa
Arquidiocese. Estamos firmes com Pedro e com o Sucessor de Pedro. Estamos
firmes com Jesus, o Cristo de Deus, alfa e ômega, princípio e fim. Ele é a
razão de nossa vida.
Neste mês dedicado às vocações, cada um de nós possa
descobrir sempre de novo a razão de sua vida e vocação; e com alegria responder
ao chamado de Jesus Cristo. Vivamos por Ele!
+ Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Metropolitano de Niterói
Fonte: Arquidiocese de Niterói
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar nossos artigos, homilias ou fotos. Que seja para a glória de Deus! Não responderemos a anônimos sem registro neste blog.