Dor e sofrimento são
próprios deste mundo, mas também alegria e prazer. Pela natureza humana,
experimentamos nesta vida muitas realidades duras e difíceis de serem
superadas, mas basta que coloquemos Deus em seu lugar de “Senhor” e “Salvador”,
que toda a nossa existência e os percalços da vida ganham novo sentido.
Na primeira leitura, Jó tenta encontrar um
motivo para o seu sofrimento. As primeiras conclusões não são boas... Jó parece
passar por um momento que beira a depressão. Não encontra mais valor autêntico
para sua vida. Tudo ao seu redor parece obscuro e sem sentido. Viver é um peso
e, passar os dias, é um sofrimento que se renova a cada tempo.
O que Jó ainda não havia encontrado, o que
nós muitas vezes ainda não encontramos, é a proximidade de Deus que se revela
também num momento de dor e de aflição. Nem sempre sofrer é um castigo pelos
nossos pecados; em muitas ocasiões, mesmo sem nenhuma falta, os justos e os
bons também sofrem. E por quê? Essa é grande pergunta daqueles que lutam
diariamente, fazendo o bem: “Por que sofro, se mal algum fiz?” Responder a tal
questão nunca será fácil! Mas podemos dizer que, segundo o modelo da história
de Jó, o sofrimento antecede a uma felicidade muito maior que a anterior. Neste
sentido, a provação que passamos tem caráter educativo: ela nos rebaixa, nos
humilha, mas nos põe em contato com aquilo que realmente somos: pó. Quantos
nesta vida, tentando driblar a dor e o sofrimento, não buscam apenas os
prazeres, não se refugiam apenas nas festas e banquetes? Mas passado aquele
momento de gozo, o que fica senão um homem frágil e dependente? O sofrimento
mexe com aquilo que há de mais profundo no ser humano: sua autoconsciência.
Nesses momentos tenebrosos, em que parece que
Deus está ausente, é exatamente aí que sua figura ganha força. O mal nos impele
a traspor as dificuldades, a lutar para sair “do buraco”, a ir para além de nós
mesmos. Isso é o que chamamos de “transcendência” – um abrir-se à realidade
espiritual, religiosa, abrir-se para Deus.
“Ele conforta os corações despedaçados, ele
enfaixa suas feridas e as cura”. Esta é a ação de Deus, segundo o salmista, a
todos os que se refugiam no Senhor. Foi exatamente o que vimos no Santo
Evangelho: Jesus cura a sogra de Pedro, cura muitos outros doentes e os liberta
do poder do mal. Diante da miséria humana, a misericórdia divina; diante do mal
que aflige o ser humano, o bem que vem de Deus!
A ação pastoral de Jesus se concentra na
debilidade humana; onde há enfermos, aí Jesus está. Enfermos da alma e do corpo
encontram no Senhor conforto e vida nova. A delicadeza de Cristo em se
aproximar de todos, independente de sua origem e de sua dor, faz com que
contemplemos realmente n’Ele, a face do Pai que nos ama e que nos quer bem. E,
porque nos quer bem, aceita conosco as debilidades do nosso viver, nos
indicando o melhor da vida, que nem sempre passa pelas vantagens ou pelo
prazer, mas pelo estar de cada coisa, em seu tempo e em seu lugar.
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