segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Apoftegmas para meditar


  Um irmão cenobita era inquieto de temperamento e fácil se metia em cólera. Certo dia disse de si para si: “Vou-me daqui para habitar só, num casebre; como não hei de ver nem ouvir ninguém, estarei em paz e a paixão em mim se apascentará”. Ele partiu e foi habitar só numa gruta. Mas certo dia, após encher e assentar em terra uma bilha d’água, o recipiente de súbito emborcou. De novo a encheu, e de novo emborcou. Fê-lo terceira vez e assentou-a – e ela emborcou. Refervo de cólera, pegou a bilha e a quebrou. Já de volta a si, percebeu que fora joguete do demônio da cólera e disse: “Estou só e, mesmo assim, ele me venceu; retornemos ao cenóbio, pois o combate, a paciência e sobretudo o socorro de Deus são necessários em toda parte.” Daí retornou donde viera. (N. 201).

Dizia-se do abade Teodoro e do abade Lúcio, ambos do Enatão de Alexandria, que durante cinqüenta anos eles troçaram de seus pensamentos (contra a perseverança) dizendo: “Findo o inverno vamo-nos embora”. E chegado o inverno: “Findo o verão partiremos daqui”. E assim fizeram por toda a vida, como Padres dignos de eterna memória. (Teodoro do Enatão, 2)

Dizia o abade Matóis: “Prefiro o trabalho leve mas contínuo ao trabalho penoso mas breve”. (Matóis, 1)

O abade Pastor contara que o abade Isidoro, padre da Cítia, disse certo dia aos irmãos em assembléia: “Meus irmãos, não viemos aqui em busca de labor? Mas percebo que não há labor aqui. Tudo bem! Vou pegar meu bornal e ir aonde há labor, e então encontrarei repouso”. (Poemão, 44)

Conta-se que a bem-aventurada abadessa e virgem Sara habitara sessenta anos próximo a um rio sem jamais se curvar para fitá-lo. (Sara, 3)

Alguns irmãos perguntaram a um dos grandes anciãos do deserto: “Pai, como podes te sentir bem aqui suportando tal labor?” Respondeu o ancião: “Todo labor que suportei desde que estou aqui não se compara a um só dia da punição futura reservada aos pecadores”. (N. 193).

Os padres diziam: “Se onde habitas te acomete a tentação, não abandones esse lugar durante a tentação: se tu o abandonas, encontrarás por onde fores o de que fugias. Pacienta até que a tentação passe, para que tua partida se faça sem escândalo e não cause perturbação aos que habitam nas vizinhanças”. (N. 200)

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