domingo, 28 de agosto de 2011

Homilia do 22° Domingo do Tempo Comum


  A cada Domingo Nosso Senhor nos apresenta uma Palavra importantíssima para nossa vida. Hoje, o convite fundamental de Cristo é que reflitamos sobre o que significa ser seu “discípulo”, ser seu verdadeiro seguidor.
  O início do Evangelho de São Mateus nos sugere já o que Jesus deseja nos ensinar; não a partir de meras palavras, mas a partir de seu exemplo. Diz o Evangelho que Jesus ia para Jerusalém e, no caminho, explicava aos discípulos sua Paixão, Morte e Ressurreição. Para demonstrar aos Apóstolos o modo do seguimento, Jesus sobe à Jerusalém. E o que encontrará lá? Aplausos? Amigos? Banquetes? Não! O Senhor encontrará o desprezo, a traição, a cruz. Não, queridos irmãos, Jesus não encontrará um ambiente afável e caloroso, mas o sofrimento e a dor, a incompreensão e um julgamento injusto. Com esta subida a Jerusalém, que significa a subida para o Céu, Jesus nos indica que para chegarmos às alegrias eternas, também passaremos por desconfortos cá na Terra, por tribulações aqui onde estamos, por desafios grandes ou pequenos em nossa vida. Para subir ao Céu, deveremos subir nossa Jerusalém. Como dizia São Francisco de Assis: “Os que não sabem do Crucificado não sabem nada do Ressuscitado. Os que não falam do Crucificado também não podem falar do Ressuscitado. Os que não passam pela sexta-feira da Paixão nunca vão chegar ao domingo da Ressurreição”.

   A decisão certa de Jesus de se encontrar com o martírio, atingiu em cheio a vanglória dos Apóstolos, o seu modo de vida estático, sem problemas, sem dificuldades. Pedro toma a palavra em nome dos outros e tenta dissuadir a Jesus de sua vontade. Mereceu do Senhor uma dura repreensão... Quantas vezes ouviremos alguns a dizer: “Não, você não pode passar por isso”, “Isso já é demais!” “Vai, paga com a mesma moeda”, “Olha, não fica por baixo!” Todas estas são expressões de revolta, de revide, de falta de amor. A cruz, não procurada, mas suportada com paciência, é caminho de crescimento humano e espiritual. Disse o Senhor: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. E o que significa “tomar a cruz e seguir?” Explica o Papa Bento XVI: “Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, aceitar diariamente a vontade do Senhor, aumentar a fé - sobretudo diante dos problemas, das dificuldades e dos sofrimentos”. E o Santo Padre continua: “Lutar contra o mal, contra qualquer forma de egoísmo e de ódio, e morrer para si mesmos para viver em Deus é o itinerário ascético que cada discípulo de Jesus está chamado a percorrer com humildade e paciência, com generosidade e perseverança. O dócil seguimento do Mestre divino torna os cristãos testemunhas e apóstolos de paz”.
   O Senhor nos fala de “renúncia”, palavra pouco compreendida nos dias atuais. Parece que nós cristãos estamos nos deixando influenciar pelas forças do mundo: ao invés de mudarmos o mundo, parece que o mundo tem nos mudado. Rejeitamos, muitas vezes, a idéia da renúncia; por ser algo exigente, que inclui sacrifício e luta, temos deixado de lado este caminho de perfeição. Renunciar a própria vontade nunca será fácil. Vivemos rodeados de vozes que nos indicam apenas o mais cômodo, o mais prazeroso, o que nos é mais conveniente. Mas para crescemos, para amadurecermos não poderemos sempre fazer a nossa vontade, nosso desejo, o que é mais fácil. Renunciar significa não rejeitar as coisas, mas abraçar o melhor, o mais agradável, o mais santo.
  Numa outra passagem, o Senhor nos dizia: “Vós sois a luz do mundo”, “Vós sois o sal da terra”, “Vós sois o fermento na massa”, quer dizer, devemos nós semear no Mundo a mensagem do Evangelho. Disse São Paulo aos Romanos hoje: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vosso modo de pensar e de julgar”. Somos nós que devemos fazer com que o Mundo se volte à mensagem de Cristo e não nos deixar iludir pelos decadentes convites que, muitas vezes, recebemos. Cristo e a Igreja nos convidam ao perdão, mas a lógica do mundo nos empurra para o ódio; Cristo e a Igreja nos convidam à castidade, mas os apelos sexistas nos oferecem a imoralidade; Cristo e a Igreja nos propõem a oração constante, mas a agitação moderna nos tira o equilíbrio e o tempo; Cristo e a sua Igreja nos chamam à conversão, mas o indiferentismo religioso nos apresenta uma religião ou da prosperidade, quando se oferecem as graças de Deus como produtos de supermercado, ou uma religião “light”, onde basta alguém acreditar em Deus e, ao mesmo tempo, em superstições, filosofias e coisas mágicas.
  “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.  Dizia o escritor C. S. Lewis: "Se você está à procura de uma religião que o deixe confortável, definitivamente eu não lhe aconselharia o cristianismo." De fato, o cristianismo é exigente e belo; para segui-lo com paixão e dedicação, deve-se deixar-se seduzir por Deus, como nos disse o profeta na primeira leitura. Não havendo amor autêntico por Deus, a cruz será apenas flagelo, instrumento de dor e de revolta. Por amor a Deus e, para o próprio bem de cada pessoa, a cruz se converte em redenção e educação humana e afetiva.
  Queridos irmãos, não devemos ter medo da cruz, medo da renúncia, medo de nos doarmos totalmente a Cristo. Amar a Jesus, é viver em plenitude; Tê-lo como Guia e Mestre, é certeza de paz. “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. “Tome a sua cruz”; não a de Cristo, pois Ele já levou a sua, mas a sua, meu irmão, minha irmã, aquela que você sofre todos os dias, aquela luta que você enfrenta todas as manhãs, aquela tribulação que você encara todas as noites, é essa a sua cruz que, tomada com força e coragem, não o mata, mas lhe ensina a viver melhor.
  Ponha no Senhor suas preocupações! Receba-O como seu Cirineu; pede-lhe que lhe carregue a sua cruz quando esta parecer pesada demais, dolorida demais, grande demais. Que o Senhor Bom e Fiel nos acompanhe no caminho de Jerusalém e nos faça chegar às Moradas Eternas. Amém.

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