sábado, 9 de julho de 2011

Homilia do 15° Domingo do Tempo Comum: Sementes do Reino de Deus


  No trecho que acabamos de ler, Jesus nos contou uma de suas mais famosas parábolas, a do semeador. Este bloco do Evangelho de Mateus é chamado de “Parábolas do Reino de Deus”; nele, Jesus sempre apresenta uma parábola, isto é, uma história baseada no cotidiano de sua época, com um conteúdo instrutivo, uma mensagem para os ouvintes.
  Na “Parábola do Semeador”, Jesus nos apresenta quatro sementes e o fim de cada uma delas, segundo o terreno que as acolhe. Mais tarde, o próprio Senhor Jesus explica a parábola, tendo em vista a pergunta dos apóstolos: “Por que falas ao povo em parábolas?” Vejamos o que Deus tem a nos falar.

  A proporção que Jesus apresenta no Evangelho já é para nos inquietar: de quatro, apenas uma semente se torna fértil. Jesus não possui nenhum espírito triunfalista, nem se propõe – como vendedor voraz – a apresentar o Reino de Deus como coisa fácil de ser adquirida; o seguimento de Jesus não é caminho plácido e tem seus obstáculos.
  A “semente” é a Palavra de Deus, é o querer divino, é a pregação do Evangelho, é a vontade de Deus para nossa vida; se não a entendermos ou se a rejeitarmos de pronto, é como se a semente caísse “à beira do caminho”, fora do terreno do coração. Todas as vezes em que fechamos nosso coração para Deus, o abrimos para o maligno que rouba nossa oportunidade de crescer, de deixar a casca da semente. Quantas vezes por orgulho, por preguiça ou por comodismo, deixamos perder a semente que Deus nos lançou...
  A semente, isto é, a Palavra de Cristo pode cair num terreno cheio de pedras. É toda pessoa que até recebeu bem a vontade de Deus, que ficou alegre por estar na Igreja, inseriu-se numa pastoral, mas quando vieram as dificuldades de se manter católico, as exigências de uma vida reta, a perseguição e incompreensão da família e do mundo, não tiveram força para resistir e desistiram de Deus e da Igreja. Quantos não estão hoje nesta situação: já deram a vida por Deus e hoje se escondem de Deus! Já deram a vida pela Igreja e hoje sumiram da Igreja! Jesus chamou a estes de pessoas “de momento”... Se o momento é propício, se tudo vai bem, eles estão alegres por serem cristãos, mas se o momento não lhes é favorável, abdicam do título de “filhos de Deus” e se tornam escravos de algum pecado...
  O convite para o Reino, para a alegria de viver na graça também pode cair num terreno cheio de espinhos. Segundo Jesus, são os que também acolheram a Palavra, também estavam na Igreja, mas se deixaram sufocar pelas preocupações ou se ludibriarem pela ilusão do ter e acabaram por abandonar a fé. Também são muitos os que aqui se encontram: não confiam em Deus, não confiam em sua Providência, em seu amor. Acham que Deus só é o provedor de suas vidas e, se passam penúrias e necessidades, é porque Deus os abandonou. Então também abandonam a Deus. Outros, ainda, são hipnotizados pelas facilidades e prazeres do mundo, trocam a eternidade pelo que podem reter em suas mãos ou por aquilo que podem ter em seus sentidos.
  Enfim, depois do fracasso de três sementes perdidas, uma torna-se fértil. São aqueles que ouviram a Palavra do Senhor, compreenderam sua vontade e a acolheram em suas vidas. São aqueles que seguem a Deus e dão testemunho do amor e da verdade, do perdão e do sacrifício dentro e fora da Igreja. Esses crescem cada vez mais em virtudes, tornando-se verdadeiros discípulos do Senhor.
  Para sermos esta semente fértil, devemos abrir em nós um campo para o Senhor; devemos buscar as disposições apropriadas para esta semente possa ser bem tratada e cultivada. Não se pode ser cristão pela metade! Não se pode ser superficial nas coisas de Deus – aos homens podemos até enganar com certa perspicácia e com mentiras, mas ao Senhor que tudo vê, que conhece corações e desvenda intenções e palavras, não há como enganar!
  O católico do futuro não pode se definir mais apenas como aquele que vai à Missa aos Domingos ou que faz algumas orações cristãs, mas como aquele que tem suas raízes fortes em Cristo e em seus ensinamentos e na Igreja e em suas tradições; se assim não for, não teremos católicos, mas “caricaturas de cristãos”. Teremos “católicos de massa” que sentem uma simpatia pela Igreja e até frequentam seus bancos, mas não se traduzem em sementes férteis, somente naquelas que se perderam: ora não compreendendo a mensagem de Jesus, ora abandonando a Igreja, ora se deixando atrair pelas ilusões do mundo...
  Não tenhamos medo de abraçar o cristianismo todo, inteiro, pleno. Não tenhamos receio de sofrer por Cristo e pela Igreja. Não tenhamos a tentação de sermos triunfalistas: a Igreja começou com doze e sua proporção é de um seguidor para quatro... Mas tenhamos fé! Ele está conosco! Nos momentos difíceis e duros, que não faltam, visitemos o Sacrário, olhemos para a Cruz, rezemos o terço. Voltemo-nos para as coisas santas, onde Deus sempre está como Bom Semeador, a tratar de nós, que também somos suas sementes.

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