quinta-feira, 28 de abril de 2011

Homilia do Domingo de Páscoa


  Celebramos hoje o dia máximo de nossa fé: o dia da Ressurreição de Cristo! O Domingo de Páscoa não é apenas um dia para ser celebrado com fervor e solenidade, mas verdadeiro itinerário, um caminho espiritual a ser contemplado e vivido.
  O que a Ressurreição do Cristo fez em nós? Que frutos o Senhor nos deixou por sua Páscoa? Vejamos o que nos dizem as leituras de hoje.
  Nos Atos dos Apóstolos, vimos a forte pregação de Pedro: “Vós o sabeis... como Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder (...). Eles o mataram, pregando-o numa Cruz. Mas Deus o ressuscitou (...)”. A vida nova do Ressuscitado trouxe ao Apóstolo nova perspectiva; a força da Ressurreição invadiu o coração de Pedro de tal forma que não houve mais resistência alguma em sua vida para aceitar e proclamar a Cristo. Bem diversa da cena da Paixão, quando o mesmo Pedro, tomado de pavor e de orgulho, negou o seu Senhor e o abandonou naquela hora terrível de sua morte... Agora, não vemos mais medo em Pedro, mas intrepidez; não vemos mais receios humanos, mas disponibilidade total para a causa do Reino; não vemos mais a negação da Pessoa de Cristo, mas agora a proclamação pública e feliz, de que o Senhor é o “Senhor de nossa vidas”.
  Precisamente, assim como a graça da Ressurreição tocou de maneira favorável o coração e a vida do velho Pedro e o transformou em novo Pedro – ardoroso amante de Deus – também assim o dom da vitória sobre a morte que Cristo nos trouxe, deseja fazer o mesmo conosco.
  Ele renova todas as coisas! Ele cuida de todas as coisas! Não foi à toa que cantamos radiantes: “Haec est dies, quam fecit Dominus, exultemos et laetemur in ea” (Este é o dia que o Senhor fez para nós, alegremo-nos e nele exultemos!). Este é o dia da alegria, dia da nova vida, dia da beleza, dia em que o Pai nos beijou pela boca do Filho! Dia em que o Pai tocou um cântico novo pela harpa do Espírito!
  Na Carta aos Colossenses, o Apóstolo Paulo nos exortava a pensar a Ressurreição não como uma especulação, uma mera mensagem edificante, mas como transformação para a vida e na vida: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo (...), aspirai às coisas celestes e não as terrestres”. De fato, irmãos, a Ressurreição não se deu apenas no Cristo, mas se dá em cada batizado. Todos nós, sepultados para o pecado nas águas batismais, ressurgimos para a vida da graça. Por isso, celebrar a Páscoa, isto é, a Passagem, é tentar viver de modo diferente, ter a Deus em primeiro lugar, não estar retido nas coisas do mundo, mas se esforçar para alcançar o maior que, já sabemos, é o melhor: Deus! “Ressuscitar”, no entanto, exige esforço. Não é fácil sair de um vício, não é natural romper com o ciclo do mal. Entretanto, ao romper este ciclo, ao quebrar as correntes, ao abandonar a caverna, ao retirar as vendas – não haverá visão mais bela, vida mais feliz e coração mais tranqüilo – do que daquele que abraçar o Evangelho...
  Finalmente no Santo Evangelho, vimos o que a Ressurreição fez a Madalena, a Pedro e a João. Diz-nos o Evangelho que Madalena foi ao túmulo bem de madrugada, quando ainda estava escuro. Aquela que amou tanto o Senhor em sua vida terrena, aquela que lhe era tão agradecida pela vida nova, não conseguiu ficar muito tempo longe do seu Senhor. Por quê? Porque os que amam não esperam! Porque os que amam vão em direção ao objeto de seu amor! Porque os que amam vencem qualquer escuridão! Fala-se tanto de amor, mas será que nosso amor é autêntico como o de Madalena? O amor verdadeiro deverá possuir tais características: amor que não espera, amor que dá ao ser amado, amor que vence qualquer desafio, qualquer contrariedade...
  Madalena anuncia a Pedro e ao Discípulo amado (que a tradição reconheceu ser João), que o Senhor não mais estava lá. Os dois correm juntos. Num determinado momento, João toma a dianteira. Interessante: parece que o velho Pedro volta à tona. Não foram os passos de Pedro que se tornaram lentos, mas novamente seu coração. Parece que novas dúvidas tomam o interior do Pescador da Galiléia... “Será que ressuscitou?” teria pensado Pedro, “será?” Quantas vezes também diante da resposta de Deus, diante do seu agir, não fizemos o mesmo? “Será?” “Será que o impossível é possível mesmo?” Sim, Pedro! Sim, irmãos! Aconteceu! Deus pode! O homem ainda fica surpreso do modo como Deus age... Quantas vezes não ficamos desconsertados com o que Deus faz? Nova lição para Pedro, nova exortação para nós!
  O Evangelho continua e diz que João chegou primeiro ao túmulo, mas não entrou. João sabe que as chaves do Reino foram entregues a Pedro, não a ele; ele tem deferência para com o Vigário de Cristo, respeita seu primado. Pedro entra, vê as faixas de linho no chão, o sudário dobrado à parte... Entra também João, olha para a mesma cena, mas sua atitude é diferente; a mesma cena, mas reações diversas: Pedro entrou e apenas olhou, João entrou, olhou e acreditou.
  Diante da vida, no mundo, na nossa casa podemos ver as mesmas coisas que todo mundo vê, mas o diferencial será o dom da fé; a fé nos faz enxergar a realidade de outra forma, iluminando tudo. Deitemos sobre todas as coisas este olhar de ressurreição! Olhemos tudo pelos olhos do Ressuscitado!
  Que a alegria da Páscoa e o convite de transformação que ela nos faz, encontre lugar em nossos corações!

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