Santa Escolástica nasceu por
volta do ano 480, na cidade de Núrsia, nos limites entre a Úmbria e a Sabina (região
central da Itália), de família nobre (dos Anici). Segundo a tradição, seus pais
se chamavam Eupróprio e Abundantia; irmã do grande Pai dos Monges do Ocidente,
São Bento, ainda segundo a tradição, era gêmea do Patriarca. Não temos muitas
fontes sobre a vida de Santa Escolástica, senão os Capítulos 33 e 34 do 2°
livro dos “Diálogos de São Gregório” e outras fontes lendárias da própria Ordem
beneditina.
Ao que tudo indica, Escolástica desde a
infância teve gosto especial pelas coisas de Deus e, junto de seu irmão Bento,
sempre ansiava por consagrar um dia toda sua vida ao Senhor. Hoje vemos tantas
crianças com pensamentos materialistas e pouco piedosos, cheias de “manha” e de
certos vícios; certamente o exemplo de duas crianças que amavam ir à Igreja,
rezar e fazer o bem sempre, como Bento e Escolástica, é um caminho de vida a
ser apresentado às crianças de hoje!
Bem, voltemos à vida da nossa santa. Seu
santo irmão deixou Núrsia e foi para Roma para seus estudos clássicos (Direito
e Literatura) e acabou se decepcionando com o nível moral e espiritual daquele lugar,
abandonando a cidade e indo para a gruta de Subiaco (próxima de Roma), afim de
se dedicar somente à Deus e à sua glória. Viveu como eremita cerca de três anos.
Neste tempo, algumas fontes nos dizem que Santa Escolástica já teria imitado a
São Bento e se retirado para um convento de mulheres, em Roccabotte, próximo à
Subiaco, guardando a virgindade, e levando vida de oração e recolhimento
exemplares.
Anos mais tarde, quando São Bento fundou o seu
célebre mosteiro no Monte Cassino, Santa Escolástica, acompanhada de muitas
outras irmãs daquele convento em que estava, foi para perto de seu irmão e
fixou morada num mosteiro abandonado em Piumarola, restaurando-o e
restabelecendo-o como lugar de oração, trabalho e contemplação. Essa pode ser
considerada como a fundação dos mosteiros femininos beneditinos, ainda que
Santa Escolástica não tivesse, certamente, a intenção de fundar uma Ordem.
Agora perto de Monte Cassino, Escolástica e
suas irmãs recebem de São Bento e de seus monges toda a assistência espiritual
e material devida e necessária. Segundo os “Diálogos”, a vigilância e a
prudência de São Bento eram extremas, fazendo-o restringir a visita de sua irmã
e de suas monjas a si, apenas uma vez ao ano e fora do mosteiro. Com humildade
e reverência, Santa Escolástica aceitava a orientação do irmão e a seguia à
risca. Para tais encontros, São Bento ia sempre acompanhado por monges e Santa
Escolástica por monjas.
Em sua vida no mosteiro, além, claro, do
exemplo de castidade pura, Santa Escolástica dirigia suas irmãs mais pelo amor
que pelo temor. Meticulosa como o irmão, Escolástica guardava fielmente as
horas de trabalho, estudo e oração. Assim, também os mosteiros femininos, converteram-se
– como os masculinos – em lugares de contemplação, adoração, trabalho
intelectual e físico. Vale lembrar grandes santas beneditinas como Santa Adélia,
Santa Gertrudes, Santa Isabel de Shonau e a Beata Hildegarde de Bingen, mulheres
de Deus cheias de dons humanos (medicina, música, botânica, etc) e espirituais
(teologia, mística, tratados de piedade, etc).
O
último encontro que Santa Escolástica manteve com seu irmão é narrada por São
Gregório Magno: “Um dia veio ela como de costume, e seu venerável irmão desceu
a vê-la acompanhado de alguns discípulos. Passaram todo o dia em louvores ao
Senhor e em santas conversações, e ao anoitecer tomaram juntos uma refeição. Estando
ainda sentados à mesa, como cada vez mais se prolongasse a hora naquele santo
colóquio, Santa Escolástica rogou a São Bento: ‘Suplico-te que não me deixes
esta noite, para que possamos falar até amanhã das alegrias da vida eterna’. Mas
ele respondeu: ‘Que estás dizendo, irmã? De modo algum posso permanecer
fora do mosteiro’. O céu estava tão sereno que nenhuma nuvem se avistava em
todo o firmamento. A santa religiosa, ao ouvir a negativa do irmão,
entrelaçando sobre a mesa os dedos das mãos, apoiou nelas a cabeça para orar a
Deus todo-poderoso. Quando a levantou, era tal a violência de raios e trovões,
e tal a enxurrada que a chuva produzia, que nem São Bento nem os irmãos que o
haviam acompanhado podiam sequer transpor os umbrais do local em que estavam
abrigados. Efetivamente, a devota mulher, quando apoiou a cabeça sobre as mãos,
havia derramado sobre a mesa uma torrente de lágrimas, as quais tiveram como
efeito fazer com que a serenidade do céu se transmutasse em chuva copiosa. Vendo
então o homem de Deus que em meio a tantos relâmpagos e trovões, e com a chuva
torrencial, não lhe era possível regressar ao mosteiro, entristecido começou a
queixar-se: ‘Que Deus onipotente te perdoe, irmã. Que foste fazer?’ E ela: ‘Ora,
pedi a ti, e não me quiseste escutar; pedi então ao Meu Senhor e Ele me ouviu…’
E assim foi que passaram toda a noite acordados, nutrindo-se ambos na mútua
conversação e em santos colóquios sobre a vida espiritual”. A conclusão de São
Gregório foi: “Se Deus é amor, mais pode a que mais amou”. Assim Santa
Escolástica “vencia” seu poderoso e santo irmão, através de suas delicadas e
mais poderosas preces.
No local onde ocorreu o milagre da
tempestade, foi depois erigido um oratório que recebeu o nome de “Capela
do Colóquio”. Que grande exemplo para nós: a força da oração de Santa
Escolástica e seu desejo de falar sempre mais das coisas de Deus! Que diferença
de certas conversas de alguns cristãos... Falam de tudo, menos de coisas mais
sérias e mais piedosas... O Senhor Jesus já dizia: “A boca fala daquilo que o
coração está cheio”... Do que nosso coração está cheio? Era das coisas celestes
que ardia o coração de Santa Escolástica e, por isso, produzia conversas tão
cheias de unção.
No dia seguinte a Santa do amor maior voltou
à sua morada; retornou também à sua o servo de Deus, Bento. Três dias depois,
estando São Bento em sua cela, levantando os olhos ao céu, viu a alma da irmã,
desprendida de seu corpo, penetrar em forma de pomba nos altos céus. Ao invés
de ficar triste e desolado, deu graças a Deus onipotente com louvores e
cânticos, anunciando a morte de sua santa irmã aos seus monges. Enviou-os logo ao
mosteiro de Santa Escolástica para que trouxessem seu corpo para Monte Cassino,
onde o depositaram na sepultura que ele havia preparado para si mesmo.
Era, segundo a tradição, 10 de fevereiro de
547. São Bento morreu 40 dias depois, em 21 de março. Que do Céu Santa
Escolástica interceda por nós e nos obtenha do Senhor Jesus e da Santíssima
Virgem, o amor que ardeu em seu coração e que a fez produzir tantos milagres em
vida e após a morte. Peçamos-lhe, também, livrar-nos de todas as conversas vãs,
e conseguir que nossas mentes estejam sempre voltadas para o desejo das coisas
celestes.
Curti essa santa! Vou recorrer mais a sua intercessão para conseguir conversar com certos sacerdotes que moram tão, tão distante! rs
ResponderExcluirSaudades, pe Helcimar!
Sua filha pequena q ainda vai se converter! ;)