quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O perdão para os Padres do Deserto

1. Aconteceu a um irmão do mosteiro do abade Elias sucumbir à tentação; posto porta afora, partiu em direção à montanha para se encontrar com o abade Antão, e lá ficou um tempo, até Antão o remeter ao monastério donde viera. Mas tão logo o viram os irmãos, expulsaram-no novamente. Retornou o irmão até onde o abade Antão e lhe disse: “Pai, não me quiseram receber”. Transmitiu-lhes este recado o ancião: “Certa vez, naufragou um navio no mar e perdeu a carga. Às duras penas conseguiu aportar, mas vós quereis submergir a nave que chegou sã e salva à margem.” Quando souberam que outro não era senão o abade santo que lhes devolvia o faltoso, receberam-no sem pestanejar. (Antão, 21).

2. Pecara um irmão, e por isso ordenara-lhe o padre que saísse da igreja. Contudo, levantou-se o abade Bessarião e saiu com o irmão dizendo: “Também devo eu sair, que sou pecador.” (Bessarião);
3. Certo dia foi o abade Isaque de Tebas a um cenóbio. Ao testemunhar a falta dum irmão, julgou-o. Ao retornar ao deserto, apareceu-lhe um anjo do Senhor defronte a porta da cela e lhe disse: “Não hei de deixar-te entrar!” Perguntou-lhe o ancião a razão daquilo, no que lhe ripostou o anjo: “Enviou-me Deus a perguntar-te: Para onde me ordenas tu mandar aquele irmão culpado que julgaste?” Num instante Isaque fez uma metania e disse: "Eu pequei, perdoai-me !" E lhe disse o anjo: "Ergue-te, Deus te perdoou, mas guarda-te doravante de nunca mais julgar ninguém, sem que Deus o faça antes." (Isaque de Tebas).
4. Certo dia cometeu uma falta um irmão da Cítia. Os anciãos em conselho mandaram se pedisse a presença do abade Moisés, que se recusou a ir. O mensageiro encaregou a outro que lhe dissesse: "Vem, que te esperam os irmãos." Ergueu-se o abade, pegou dum saco furado, encheu-o de areia e pô-lo sobre os ombros, e com ele foi até onde os irmãos. Saindo-lhe ao encontro, perguntaram os irmãos: "Que é isto, Pai?", ao que lhes respondeu o ancião: "Meu pecados escorrem às minhas costas, e não nos vejo eu; e tenho eu agora de julgar os pecados alheios?" Ao escutarem aquela palavra conceituosa, já não tocaram mais no assunto os irmãos e perdoaram o culpado. (Moisés, 2).
5. Perguntou o abade José ao abade Pastor o seguinte: "Dize-me: como alguém se torna monge?" Respondeu-lhe o ancião: "Se quiseres encontrar repouso neste e noutro mundo, em todas as ocasiões levanta-te esta questão: ‘Quem sou eu?’ e não julgues ninguém." (José de Panefo, 2).
6. Outro irmão interrogou o abade Pastor lhe dizendo: "Se vejo a falta do meu irmão, faço bem em escondê-la?" Respondeu-lhe o ancião: "Cada vez que escondemos o pecado do irmão, esconde Deus o nosso; e cada vez que denunciamos as faltas dos irmãos, denuncia Deus as nossas igualmente." (Poemão, 64)

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