Queridos irmãos e irmãs
desta Arquidiocese de Niterói: A todos, a paz!
Mais um ano começa. Já se apagam as lâmpadas
do Natal, o presépio e a árvore logo serão desmontados. Os magos encontram-se,
ainda, entre nós. Quando se desligarem as fiações, todas as estrelas serão
apagadas. Mas aquela do Natal, a estrela dos magos, continuará dentro de nós,
iluminando o caminho. Não basta que exista o caminho, nem basta que exista a
vontade de percorrer o caminho, nem mesmo que existam os meios para fazê-lo: é
preciso haver uma estrela. Se não houver luz, a escuridão que invadir o caminho
poderá desviar a chegada. Andar a esmo e no escuro não é andar: é,
simplesmente, ir sem saber aonde. Para caminhar, é preciso um projeto de
caminho. Para existir esse projeto, é preciso haver luz. “E a luz foi
feita” (Gn 1,3). A primeira obra criada foi, na verdade, a condição de
todas as outras.
Coube ao evangelista
Mateus a honra de relatar o episódio dos magos do Oriente. “Tendo nascido
Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, alguns magos do
Oriente chegaram a Jerusalém, e perguntaram: Onde está o recém-nascido rei dos
judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos prestar-lhe homenagem” (Mt
2,1-2). Cada vez que se celebra a Solenidade da Epifania, impressiona-me a
sensibilidade de Mateus: ali, diante do Menino e sua Mãe, se encontravam homens
sábios, vindos de um mundo desconhecido – chamado “Oriente” – orientados por
uma luz interna. Eles vieram para encontrar algo mais; e esse “algo mais”, só a
vida não é capaz de fornecer, sequer de mostrar. A vida é pouco para isso. Para
eles, era preciso uma luz do Alto: no mínimo, uma estrela. “Ao verem de
novo a estrela, os magos ficaram radiantes de alegria” (Mt 2,10).
A jornada dos magos reflete
a viagem interior de cada homem e de cada mulher, rumo – caso o caminho seja
percorrido e haja luz – à maturidade espiritual. O terreno de perigos, trevas e
armadilhas – os “Herodes” que encontramos – são as regiões ameaçadoras e
desconhecidas dentro de nós mesmos. Cada um tem seu próprio “Oriente”, seu
próprio “Herodes”, sua “estrela” e sua busca. Cada um é um sábio do Oriente,
seguindo a luz interna e se perguntando: “Onde está o recém-nascido?”Será
possível imaginar os perigos enfrentados até o final da jornada? “Depois
que ouviram o rei, eles partiram.” Não, não é possível imaginar. O que
sabemos – o que, realmente, interessa saber – é que eles atravessaram os
últimos confins da alma. E chegaram. ”A estrela, que haviam visto no
Oriente, ia adiante deles, até que parou sobre o lugar onde estava o Menino” (Mt
2,9).
Mas eles não caminharam de
mãos vazias: eles levavam tesouros. “Quando entraram na casa, viram o
Menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele, e lhe prestaram
homenagens. Depois, abriram seus tesouros, e ofereceram presentes ao Menino:
ouro, incenso e mirra” (Mt 2,11). Esses tesouros que eles abriram diante
do Menino representam todos os recursos interiores, nossos tesouros, que,
muitas vezes, nem imaginamos que existam. Quando encontraram o Menino, eles se
encontraram. Quando abriram seus tesouros, foi a si mesmos que se abriram.
Ouro, incenso e mirra. E por
que não? Também vocês já levaram ao Menino o ouro das suas vidas: seus filhos,
suas conquistas, suas vitórias. Também já apresentaram o incenso de todo
impulso bom que governa nossa caminhada espiritual: o desejo de ser mais, de ir
além, de subir, feito fumaça perfumada de incenso, de encontrar a razão que dê
razão a todas as razões. Mas também já trouxeram a mirra amarga daquilo que a
vida insiste em negar: a faculdade que ainda não foi possível terminar, o
atendimento médico-hospitalar que ainda insiste em ser negado, os sonhos de uma
vida inteira que sempre ficam por esperar. O ouro é aquilo que somos; o
incenso, o que queremos ser; a mirra é a frustração daquilo que não nos foi
possível alcançar. No Natal, levamos ao Deus-Menino o que somos e o que não somos.
E até o que não somos apresentamos ao Deus que É.
Agora, somos todos “magos do
Oriente”. Cada um tem seu mundo desconhecido, sua estrada e sua estrela. Ao
adorar o Menino e ao abrir seus tesouros, cada um pôde se encontrar. E, então,
a estrela que iluminou o caminho, iluminou, também, o “oriente” desconhecido de
cada um. Pelo simples fato de encontrar o Menino, nosso caminho se tornou
outro. Esse é o milagre do Natal, oferecido aos pastores, aos magos, a mim e a
você: um outro caminho. “Avisados em sonho… partiram para a região deles,
seguindo por outro caminho” (Mt 2,12).
Irmãos e irmãs: O ano que
terminou não é passado, é um pedaço do futuro. Nesse novo ano, também eu
estarei começando um novo futuro, por outro caminho, para as “terras do
Oriente”. O encontro com o Menino nesse Natal me garante vir a vocês da mesma
forma como os magos foram a Belém. Segui a estrela-guia, fui pelo caminho
certo. Encontrarei vocês. E, junto a vocês, encontrarei o Menino e sua Mãe. A
estrela de suas preces iluminará minha jornada, nesta abençoada Arquidiocese. A
todos deixo minha primeira bênção, em nome do Deus Uno e Trino, Senhor de
nossas vidas, luz de nossa caminhada: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém.
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Dom José Francisco Rezende Dias
Arcebispo Eleito de Niterói
Arcebispo Eleito de Niterói
Fonte: Arquidiocese de
Niterói
Seje bem vindo!
ResponderExcluirDom José Francisco